Há 10 anos
A campanha eleitoral está a chegar ao fim. Ou ao intervalo, quem sabe?
Pela minha parte creio mesmo que está a chegar ao fim… Não há volta a dar-lhe!
É um destino há muito traçado!
Traçado pela História e traçado por todos nós, que fazemos a História. Ou que a não sabemos desfazer…
Esta, como de resto vem sendo comum a todas as campanhas eleitorais – provando, também elas, que a nossa democracia se afunda mais depressa que o submarino do Coelho Tiririca – uma campanha em que toda a gente bateu. Porque grande é o deserto de ideias. E pequeno o respeito pela sanidade mental dos cidadãos eleitores, sempre vistos (se calhar com alguma razão!!!) como atrasados mentais. Porque muita é a demagogia e pouca a importância dada a tudo o que importa. E por mais uma catrefada de coisas sem jeito nenhum e uma ninharia de coisas com pouco jeito, como as Frases da Campanha, por exemplo, ilustram.
Tenho por isso que reduzir o balanço da campanha ao seu único mérito: conseguiu explicar-me uma coisa que eu – deficiência minha, reconheço – por mais voltas que desse, não conseguia entender.
Eu não conseguia perceber o que é que o Presidente Cavaco tinha andado a fazer estes anos todos do seu primeiro mandato. Tinha dado por ele duas vezes: sempre no início do Verão – não, não foi quando ele “carregava o jipe” com os diplomas todos que levava para férias! Foi quando se lhe deparou um grande problema nos Açores, verdadeiramente o maior problema nacional destes últimos cinco anos; e, logo no Verão seguinte, quando teve de enfrentar a mais vil campanha de espionagem de que há memória, desencadeada pelo governo inimigo da sua República, que pôs em causa a segurança do seu computador e a própria independência nacional.
Agora, que estou a avivar a memória, a relembrar estes dois mega acontecimentos históricos que marcarão para sempre o legado de Cavaco, acabo por me ver obrigado a reconhecer que dei por ele poucas vezes – é certo – mas, caramba, o que importa é a qualidade. Não é a quantidade!
Mas mesmo assim, e até admitindo que pudesse haver aqui um pouco de má vontade da minha parte, eu continuava com grande dificuldade em perceber muito bem o que ele tinha andado a fazer. As poucas, mesmo que boas, a mim não me chegavam! Não fosse esta campanha eleitoral e aí ficaria eu para sempre devedor (de reconhecimento, claro) do nosso Presidente. Sentir-me-ia um ingrato para o resto da vida!
Mas também não há nisto nada de surpreendente. Afinal uma campanha para uma reeleição serve mesmo para isso! Para avaliar o desempenho e, depois nas eleições, premiá-lo ou penalizá-lo. Básico em democracia, mesmo em Portugal!
Como Cavaco não se tem cansado de nos avisar, o país está á beira da explosão. Portugal é hoje um autêntico barril de pólvora que se não pode dar ao luxo de dispensar a experiência, o conhecimento, a credibilidade, o equilíbrio e o bom senso de que é ele o único fiel depositário. Numa situação destas não se pode arriscar no desconhecido. Não é tempo para fazer experiências. Belém não pode ser um laboratório cheio de tubos de ensaio mas um banco de conhecimento maduro e testado. Onde ninguém se engane e onde não hajam dúvidas!
E foi aí que percebi que Cavaco, afinal, não se limitou no seu mandato àqueles dois fogachos. Não. Foi todo um trabalho diário incansavelmente desenvolvido ao longo de todos estes cinco anos para, precisamente, chegarmos a este ponto.
Pois é! Cavaco empenhou-se em permitir que o governo conduzisse o país até aqui, à beira da explosão – nas suas próprias palavras – para que, agora e aqui chegados, não nos baste elegê-lo. Seja necessário aclamá-lo para aí com 70% dos votos!
Enfim… mas eu que tenho cá esta irreprimível má vontade, fico a pensar que ainda bem que só há dois mandatos… Mas por que é que não há apenas um?