Há 10 anos
Já aqui tratamos do nível de literacia do futebolês, quando falamos de leitura. Leitura de jogo, mas leitura!
Pois se há leitura no futebolês também terá que haver livro. Que, para se ler, terá que se abrir!
Abrir o livro, em futebolês, não tem no entanto nada a ver com esse acto com que se inicia a leitura. Abrir o livro tem aqui mais ligação a outras áreas da cultura e vai encontrar no recital o seu parente mais chegado.
Diz-se que um jogador decidiu abrir o livro como se pode dizer que iniciou o recital. Acontece quando um ou outro jogador, dotado de quantidade de génio que baste, parte para uma exibição de luxo. Quando está naqueles dias em que tudo sai bem, em que todos os deuses estão do seu lado, dispostos a ajudá-lo a soltar todo o talento que lá está dentro. Todo o génio que, envergonhado e tímido, tantas vezes se esconde não se sabe bem onde!
Para abrir o livro é evidentemente necessário que haja livro: quer dizer, talento e génio. Só os predestinados conseguem abrir o livro!
Depois há um problema que eu ainda não consegui perceber bem. Por que é que há jogadores que abrem o livro em todos os jogos e outros que só o fazem de tempos a tempos? Muito esporadicamente... Alguns apenas uma única vez em toda a vida…
Fico sem perceber se é um simples problema de hábitos de leitura ou se é um problema de esconderijo. Se é o talento que está tão bem escondido e aconchegado que não está para se dar a maçadas…
Quando se fala de Messi, e mais cinco ou seis logo a seguir, não há grandes dúvidas: o talento é tanto que não há espaço naqueles corpinhos para o esconder. Então já se sabe que onde quer que apareçam é para abrir o livro. É o que está a acontecer também com o Fábio Coentrão e com o Gaitan, o tal que não era ala – se era para substituir o Di Maria (outro autêntico livro aberto) bem podiam tirar o cavalinho da chuva, diziam as más-línguas – e hoje é um daqueles calhamaços abertos que ninguém consegue segurar.
Nós por cá não somos muito dados à leitura. Não temos por cá, a não ser nos transportes públicos, muita gente dessa de andar sempre de livro aberto. Já vimos que na Luz moram alguns! Pelo Dragão também passa um ou outro. Mas com livros de bolso, daqueles mais pequenos. Em Alvalade as coisas estão mais difíceis. Mandaram embora o levezinho - sempre de livro no bolso, pronto a abrir - e, agora, nem daqueles livros pequeninos de banda desenhada (do Patinhas, do Texas Jack e do Mandrake, lembram-se?) eles conseguem abrir!
Por isso é que as coisas estão como estão: o Benfica a bater recordes de vitórias consecutivas, com grandes recitais de elevada nota artística – como diz, à sua maneira, Jorge Jesus – e o Porto a ganhar o que importa ganhar, importando-se pouco de perder o que não importa muito ganhar. E o Sporting …
Quer dizer: o Benfica a jogar bem e a ganhar e o Porto a ganhar bem! Acontece que o Benfica, quando não jogou bem, não ganhou e o Porto ganhou, mesmo quando não ganhou bem! Essa é a diferença que faz hoje toda a diferença! Uma diferença onde também entram umas quantas arbitragens cirúrgicas. Ai aquelas primeiras quatro jornadas que cavaram logo um fosso de nove pontos …