Há 10 anos
Anda tudo muito agitado com a falta de propostas eleitorais dos partidos políticos. O PSD não tem programa e o do PS é o PEC4 - é o que se ouve por todo o lado. E que quer dizer apenas isto: do PSD não sabemos nada e, do PS, o que sabemos não presta.
É verdade – sabemos pouco do PSD. Mas, do PS – e então deste PS que insistiu em apresentar-se com a mesma roupa, e nem sequer lavada – sabemos de mais. E sabemos que não presta, não é apenas o PEC que não presta!
Mas voltemos ao grande problema que preocupa hoje os portugueses – os programas eleitorais dos partidos. Ou melhor: a falta deles! Especialmente a do programa eleitoral do PSD.
No Eixo do Mal, da SIC Notícias do último sábado, era a Clara Ferreira Alves que levantava uma folha de papel para a câmara e dizia:”olhem, aqui está o programa do PSD”. Nas entrevistas deste fim-de-semana – ao Expresso e à RTP – Fernando Nobre, o homem de quem se fala, também lamentava essa falta. Mais acentuada quando chegou a correr que ele próprio teria estado envolvido na sua preparação. Ontem era ainda Freitas do Amaral, numa boa entrevista na RTP, a voltar a apontar o dedo a esta falha grave. Que não entendia, acrescentava, porque não é necessário um calhamaço de uma tese de doutoramento com 500 páginas: basta uma simples folha de papel com uma dúzia de ideias. Para o provar recorreu mesmo ao baú das suas memórias da histórica liderança do CDS, quando recordou que se era preciso apresentar qualquer coisa de um dia para o outro, tudo se resolvia numa noitada com o Adelino Amaro da Costa e o Basílio Horta (sim, sim, esse mesmo – o cabeça da lista do PS por Leiria).
Isto já para não falar do jogo politiqueiro, onde o PS já dá tanto uso a este argumento como ao da culpa pelo chumbo do PEC e pela crise política.
Confesso que também a mim me fez uma enorme confusão que, ao fim de um ano – e que ano, um ano com o governo sempre no fio da navalha – a nova liderança do PSD não tenha tido forma de delinear a tal dúzia de ideias, quando andou erraticamente a passear por becos e ruelas. Para onde entrava sem que ninguém percebesse e donde saía só depois de andar a bater com a cabeça por aquelas paredes.
Nada que entretanto não tenha percebido, e nada por que me não penalize. Afinal era preciso vistas bem largas para perceber isto. Humildemente reconheço que as minhas vistas curtas me impediram de lá chegar mais cedo. Lamento é ter de denunciar as vistas curtas de personalidades como as que acima referi!
É que, como é hoje perfeitamente evidente para a maioria dos comuns mortais, não faz qualquer sentido que um partido – seja ele qual for – apresente um programa eleitoral. Não faz sentido, mas também não pode: o programa está ainda e apenas no início da preparação. Estão só agora a decorrer os primeiros contactos com os parceiros sociais – os sindicatos foram hoje recebidos, e as organizações patronais apenas amanhã – e com os partidos políticos. Encontros que o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista recusaram liminarmente!
E como a coisa não se resolve numa noitada, nem com uma dúzia de ideias numa folha A4, como preconizava Freitas do Amaral, o programa dos partidos ainda está bem atrasado. Os homens nem sequer vão gozar os feriados da Páscoa para não atrasar a coisa. Mas, mesmo assim, só lá para o final da próxima semana – que também será fim do mês - é que haverá fumo branco. Nessa altura já ninguém perguntará pelo programa de quem quer que seja!
Pelos vistos apenas ao PCP e ao BE se pode exigir que apresentem as suas propostas para o país. O Bloco já se mostrou disponível, mas a conta gotas: serão 20 pontos – mais que a tal dúzia – a apresentar ao ritmo de um por dia!
Percebe-se que o outro chegará primeiro!