Há 10 anos
A questão da reestruturação da dívida está em cima da mesa. Não é uma questão ideológica, como se quer fazer crer, apesar de terem sido os partidos de esquerda – PC e Bloco – a introduzi-la no debate. É o próprio Economist, que nada tem a ver com as teses de esquerda, a recomendá-la.
Evidentemente que não é uma discussão oportuna, e é isso, é esse pormenor, que faz com que os restantes três partidos com representação parlamentar – que assinaram o memorando da troika – se mantenham à margem desta discussão. Não passa pela cabeça de ninguém estar nesta altura, quando o chamado programa de ajuda financeira externa está ainda em aprovação, se esteja a declarar que, nas condições que o governo acabou de aceitar e os restantes dois partidos – provavelmente governo dentro de um mês – de subscrever, não é possível pagar! Acabar de assinar um acordo e dizer que não é possível cumpri-lo não é aceitável. É surreal!
E no entanto assim é. Não há volta a dar-lhe!
As taxas de juro à volta dos 6% que os nossos parceiros europeus – o mau da fita não foi, como já se tinha percebido ao longo das três semanas que por cá estiveram, o temível e tenebroso FMI – decidiram aplicar-nos como medida de retaliação - a sova que os nossos amigos alemães e nórdicos entendem que merecemos – são incomportáveis para a nossa economia: uma economia em recessão neste e no próximo ano. Não há milagres!
É por isso que a reestruturação está para este tempo como a inevitabilidade do pedido de auxílio financeiro estava para o Verão passado. Então foi Sócrates quem quis negar essa evidência resistindo, com os custos que já se conhecem, apenas por seis meses. Agora é a própria realidade institucional a obrigar a negar esta evidência: não pudemos negociar coisa nenhuma, restou-nos a humilde condição de pedinte que aceita e não discute. Aos donos do dinheiro exigia-se que, para além da ânsia punitiva – eventualmente compreensível – lhes sobrasse algum bom senso, alguma noção da realidade e racionalidade na defesa do euro e da própria União. Que é a sua própria defesa!
Não tiveram nada disso. Ou porque não consigam sequer ter essa visão ou porque as conjunturas políticas internas lhes toldem a vista!
Agora é apenas uma questão de tempo.
Não será – espero – uma reestruturação “não pagamos”, como se pretende catalogar quando é a esquerda a falar dela, mas terá que ser uma reestruturação que altere muitas, se não todas, as condições em vigor. E, eventualmente, já com mais gente no barco!