Há 10 anos
Os comentadores oficiais do regime falam frequentemente de renovação política. Da necessidade de renovar a classe política, de refrescar o ambiente político, da abertura à sociedade civil e até da crise de vocações para a política que, por sua vez, faz pouco para cativar gente nova.
No entanto, sempre que alguém chega a vida política vindo directamente da chamada sociedade civil e respondendo afirmativamente ao apelo da cidadania, a coisa muda de figura. São normalmente mal recebidos, mesmo com alguma hostilidade. E quanto mais fugirem aos estereótipos instituídos mais hostilizados são.
Recordo-me da forma como, por exemplo, esta classe altamente influente, recebeu a candidatura de Fernando Nobre à presidência da República. É certo que, como eu próprio oportunamente aqui reconheci, a realidade viria mais tarde a dar-lhes alguma razão: a campanha de Fernando Nobre viria a confirmar a sua inaptidão política mas, mais importante que isso, viria a revelar grande falta de substância e a provocar o desapontamento de muitos cidadãos. Mas a verdade é que os comentadores oficiais chumbaram-no muito antes de prestar provas por fugir ao estereotipo, ou por preconceito!
Está a acontecer o mesmo com o novo governo: aí estão eles - que vivem paredes meias com a classe política que tem segurado o poder nas últimas décadas (mais parece, muitas vezes, viverem dela para ela) – a acusar a maioria dos novos ministros de falta de experiencia política. Não lhes importa muito se é gente que tem uma carreira e uma profissão, se é gente tecnicamente competente e profissionalmente capaz. Não lhes importa muito se é gente com condições para fazer a renovação de uma classe política desacreditada, uma lufada de ar fresco numa cena política bafienta. Não, o que para esta gente importa é a sua falta de experiência política!
Ainda bem que lhes falta experiência, porque dos que têm muita experiência estamos todos fartos. Menos os comentadores do regime, a maioria deles com muita experiência política! De mais!