Há 10 anos
Se a nacionalização do BPN ficou marcada pela incompetência – eu continuo a preferir considerá-la assim – a sua reprivatização é marcada pela troika. Foi a troika que a impôs - numa imposição a que nem faltou o deadline, que mais ajudaria a apertar o garrote à volta do Estado-vendedor - e foi uma outra troika quem comprou. Com a particularidade de a troika compradora - Isabel dos Santos - Américo Amorim – Mira Amaral - ser tão impositiva quanto a outra, a que impôs a venda.
E, como já estamos habituados a obedecer a troikas, isto foi fácil. Tão fácil que até eles ficaram surpreendidos, como há dias aqui dava conta. Uma troika impôs a venda e outra a compra! Pelo meio ninguém que se preocupasse muito com os contribuintes, que têm de pagar tudo. Até os roubos que acontecem nos negócios privados!
Lembram-se de, há três anos atrás por volta desta altura, o então novo Presidente do BPN – Miguel Cadilhe – ter pedido ao Estado 600 milhões de euros? Lembram-se? Era, dizia na altura, quanto precisava para recuperar o banco do estado em que os accionistas assaltantes o tinham deixado.
Interrogava-me então eu – e muitos outros certamente – por que carga de água é que haveríamos de ser chamados a participar na resolução de um problema que não nos dizia respeito. Aquilo era surreal: com que lata é que vinha um tipo pedir 600 milhões para resolver um problema numa empresa privada. Que era um banco mas que era também muito mais que um banco…
O ministro das finanças – o então ainda bem-amado Teixeira dos Santos – colocou-se de imediato ao lado destas perplexidades: não fazia qualquer sentido envolver os contribuintes neste problema, disse então. Mas foi sol de pouca dura: três ou quatro meses depois nacionalizava o banco. Apenas o banco assaltado. O pouco do produto dos assaltos que ainda restava e se distribuía pelas empresas que compunham o universo Sociedade Lusa de Negócios (SLN) ficou de fora. Nacionalizava os prejuízos. Limpinhos, para não haver dúvidas!
Depois, o resto é conhecido: milhares e milhares de milhões de euros que ainda não pararam. Nem irão parar, pelo que se sabe do negócio… em que, uma vez mais, o Estado faz a coisa pelo limpinho. Se quando nacionalizou quis ficar com o osso limpinho agora, na reprivatização, quer dar o lombo limpinho, sem um osso!
A ideia que fica é que este não é se não mais um capítulo do pesadelo BPN. Agora, quando os principais partidos parlamentares pedem esclarecimentos – os que suportam o governo chamando ao Parlamento a Secretária de Estado Maria Luísa Albuquerque (sem que se perceba por que não o ministro das finanças) e o grupo parlamentar do PS a chamar os concorrentes preteridos – e enquanto o Montepio Geral diz que aceita sem contestação o desfecho do processo, o tal Núcleo de Investidores Privados (NEI) vem dizer que o negócio não está fechado. Que não recebeu qualquer informação oficial e que as negociações continuam em curso, razão pela qual não podem adiantar os contornos da sua oferta.
Ora aí está um interesse acrescido para a iniciativa do grupo parlamentar do PS: ver quem lá aparece!
A nós, que temos de pagar tudo isto, resta limitarmo-nos a pedir um pouco de respeito…