Há 10 anos
Ontem, numa prisão do estado americano da Georgia, foi executado o cidadão norte-americano Troy Davis que, durante os mais de vinte anos que passou no corredor da morte, jurou a sua inocência na morte de um polícia à paisana, em 1989, de que era acusado. Sucederam-se os recursos, os apelos e as petições, e as provas irrefutáveis nunca apareceram – arma do crime, que nunca foi encontrada, impressões digitais, etc. –; mas a sentença permaneceu, implacável, até à sua execução. Ontem!
É chocante. Porque a pena de morte choca e porque choca ainda mais numa sociedade como a americana, esse farol da liberdade e da democracia apontado ao mundo e paradigma de civilização e do desenvolvimento. Mas também pela frieza de uma pena de morte aplicada numa condenação sem objectivas e irrefutáveis provas de culpa.
Várias foram as personalidades que pediram clemência e reclamaram o indulto desta pena: actores e actrizes de HollWood, o ex-presidente Jimmy Carter e até o papa Bento XVI. O presidente Obama, chamado a intervir, fez como Pilatos. Que não tinham nada a ver com aquilo, que era assunto do Estado da Georgia e não da competência do seu poder federal!
Não sei quantas pessoas terão sido executadas durante o mandato de Obama, mas sei que a esperança que o mundo depositou em Obama não encaixa nesta indiferença. Sei que o Obama que lava as mãos desta maneira nãos a pode voltar a mostrar ao mundo. Porque estão sujas!
Hoje, na assembleia-geral da ONU, a Palestina pede o reconhecimento do seu Estado como o 194º membro da Organização. É minha convicção que, no actual momento histórico e sem me deter em argumentações que seriam fáceis de encontrar, porque esse não é agora o objectivo, seria fácil votar este pedido de adesão, um dos maiores, se não os maior, contributos para a solução do eterno problema do médio oriente que, como todos já percebemos, há muito que deixou de se limitar àquela zona do globo.
Mas os EUA não o permitem e Obama veio explicar que é preciso negociar primeiro. Não diz é o que é há a negociar quando, como todos sabemos, o que está em causa são os colonatos que Israel instalou e que continua a instalar. E que, enquanto contar, como conta, com a protecção americana, continuará a expandir sem nada negociar.
Quando Obama anuncia o veto e diz que preciso, primeiro, negociar, está a lavar as mãos, exactamente como fez perante a execução de Troy Davis! E, como aí, a trair a esperança dos que vibraram com a sua vitória eleitoral há apenas três anos!
Há três anos o mundo elegeu Obama. Pode ser que daqui por pouco mais de um ano os americanos o reelejam!