Há 10 anos
Costuma dizer-se - e com mais acuidade nestes tempos que correm, nesta cultura do individualismo, do salve-se quem puder sem olhar nem a meios nem a fins – que ninguém dá nada a ninguém. Não há almoços grátis, como se diz na moderna terminologia desta sociedade armada ao fino, sendo que o fino, agora, é este ar executivo e tecnocrático onde o almoço atinge um estatuto verdadeiramente iconográfico.
Se assim é, se o tempo é de ninguém dar nada a ninguém, como é que se dão minutos, sendo que minutos são tempo, e tempo é outra das coisas que, no tempo que é este, ninguém tem. Muito menos para dar!
Poderíamos ser levados a pensar que se trataria daqueles trinta minutos de que tanto se tem falado. Mas não é, porque aí falava-se de dar meia hora!
Que, no fim, ninguém acabou por dar. E não foi exactamente por ninguém dar nada a ninguém porque, quando são obrigadas, as pessoas dão … tudo. Umas dão tudo para que outras não dêem nada, como acabou de se ver por aí!
Bom, mas isto é política, coisa a que o futebolês não passa muito cartão. Aqui dão-se minutos a jogadores: minutos de jogo que, para boa parte de jogadores, são preciosos. São a oportunidade por que esperam há meses…
No futebol há uma dinâmica de construção das equipas, como aqui já referi numa ou noutra oportunidade. No início, no arranque da época é o plantel, com o objectivo de dois jogadores para cada posição. Segue-se, com o arranque das competições oficiais, a construção da equipa. O onze titular assume uma prioridade absoluta, sendo certo que enquanto o treinador não estabilizar na constituição da equipa, não encontrar o seu onze, fica exposto e vulnerável à crítica, coisa de que ninguém gosta. Passados os primeiros quatro ou cinco meses de competição, os jogadores do onze titular começam a precisar de descanso. Estão rebentados! Enquanto descansam há que recorrer aos outros que, coitados, ou passaram estes meses todos a sarrafar o rabo pelo banco ou no ginásio a curar lesões graves e prolongadas. Que precisam de minutos, de competição menos exigente para atingir um ritmo competitivo mínimo que lhe permita substituir os mais cansados.
É neste período do ano que surgem as oportunidades para – como também se diz – rodar jogadores. Com a Taça da Liga e com a Taça de Portugal surgem as competições para os treinadores darem minutos aos jogadores. Na maioria dos casos os resultados não são muito entusiasmantes e, não raramente, os treinadores acabam por ter de recorrer aos artistas principais para resolver os problemas que adversários de segunda linha colocam a jogadores também de segunda linha. Mas pronto, os minutos não ficaram por dar, como é obrigatório nesta altura. Porque, quando essas competições chegarem às suas fases finais, acabou-se a rotação. Então aquilo é mesmo para ganhar!
Quem foge um bocado a este estereótipo é o Sporting. Sempre diferente!
Ali não há minutos para dar a ninguém. Mas a verdade é que também não há um onze daqueles de caras. Sempre das mesmas caras… Mais parece que o Domingos não tem feito mais nada que dar minutos. A Bojinov, a Polga, a Carriço, a Rodriguez… Alguns levam isto mesmo muito a sério, como o Bojinov que achou que, se lhe davam minutos, também lhe poderiam dar um penalti a marcar. Agora acabou-se: nem penaltis nem minutos, apenas o papel de bode expiatório.
Na Taça da Liga, onde festejou já dois empates – com o Rio Ave e o Moreirense – para se parecer com os mais directos rivais, Domingos rodou … o guarda-redes. Que, por acaso ou não, salvou a equipa de duas derrotas e de um humilhante adeus à Taça da Liga, e, ou muito me engano, mas é mesmo melhor que o outro, que até defende a baliza da selecção nacional.