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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Há 10 anos

O retrovisor da vida: olhando para trás e vendo coisas boas

É de ouro! Compra-se e vende-se, como uma mercadoria. Por vezes é ensurdecedor… outras é sepulcral. É aterrador, mas também tranquilidade, paz, e ordem!

Bucólico e assustador. É cúmplice e delator. O silêncio é arma de defesa e de ataque, é direito e dever…

Silêncio é mistério. O mistério do que se não diz, do que fica por dizer e entregue à livre especulação de tudo e de todos. Ao livre e discricionário arbítrio de quem o escuta sem nada conseguir ouvir. Quem cala consente, diz o povo e toda a gente acredita!

Quem cala permite tudo: permite concluir do que não foi dito, aceitar o que se não aceita, validar o que não vale, consentir o que se não consente, concordar com o que se não concorda…

É a porta fechada ao mais insondável de cada um. É o último reduto da intimidade, daquilo que pretendemos preservar só em nós, fechado a todos os outros. É o segredo para sempre guardado, inviolável!

Silêncio é respeito e falta dele. Respeitamo-nos no silêncio e ofendemo-nos no silêncio… Solidarizamo-nos e desprezamo-nos no silêncio! No silêncio tomamos de partilha o pesar e a dor, mas também a mais absoluta das indiferenças…

Faz-se silêncio para ouvir: Silêncio que se vai cantar o fado! E faz-se silêncio para calar, e impedir de ser ouvido.

Silenciam-se vozes para calar consciências. É a liberdade tomada de assalto pelo poder, por qualquer poder. É a verdade inconveniente - ou simplesmente incómoda - calada, silenciada. Onde tudo vale. Não há limites nem fronteiras. Nem pudor em atropelar os mais indiscutíveis valores que marcam a condição humana nos actuais patamares da civilização. Nem a própria vida é uma linha intransponível…

Há o silêncio dos inocentes. E o dos culpados! O dos inocentes é sepulcral. O dos culpados chega a ser ensurdecedor!

Cada um tem a sua relação própria com o silêncio. A forma de o administrar, seja na sua relação consigo próprio seja na sua relação com os outros, constitui o principal eixo da matriz comportamental de cada um. E um dos seus mais notáveis traços de personalidade!

Há quem lide bem e quem lide mal com o silêncio. Quem precise absolutamente dele para se concentrar e quem nele o não consiga fazer. Quem o use para a reflexão e quem o use para a alienação, para fugir do mundo e quantas vezes de si próprio. Da própria vida. Quem nele se deprima e quem nele se revigore. Quem nele se esconda ao longo de toda uma vida, como quem se esconde atrás de uma máscara que lhe permita passar pela vida como quem passa por entre os pingos da chuva …

Há estratégias de silêncio. E não apenas as dos réus, em tribunal. Há quem faça da estratégia de silêncio uma estratégia de orientação, de sobrevivência. Quem estabeleça autênticos pactos de silêncio com a vida. Gente que se não compromete com nada nem com ninguém, indiferente a tudo e a todos. Gente sem causa e sem causas!

Só não são indiferentes a si próprios, com o centro do mundo no seu próprio umbigo.

Há votos de silêncio! Quando em busca do sobrenatural ou do divino se esquecem as pessoas. Quando a aproximação ao divino é o afastamento das pessoas, quando se procuram respostas a perguntas que se não sabem fazer, quando se procuram certezas onde apenas há dúvidas.

E pactos de silêncio, carcereiros da liberdade e anfitriões do subjugo, que fazem do medo forma de vida e das pessoas marionetas. São dispositivos de comando á distância, exactamente como os que as tecnologias nos disponibilizaram e que nos dão, também eles, uma estranha sensação de poder. O poder na ponta do polegar que nos permite silenciar uns para dar voz a outros, afastar o que nos desagrada para procurar o que julgamos querer encontrar.

O silêncio rompe-se, como se rompem umas meias ou umas calças. E quebra-se, como se quebra um prato ou um copo. Romper com o silêncio, contudo, é, e haverá de ser sempre, um acto de coragem. Consistente e, acima de tudo, consequente. Quebrá-lo pode ser apenas um atrevimento. Simplesmente esporádico, quando não inoportuno.

Romper com o silêncio é soltar amarras, rebentar algemas e gritar liberdade. É dizer não e nunca mais. Quebrá-lo é apenas interrompê-lo por breves momentos, para que tudo permaneça exactamente como está.

Há amor no silêncio: “as mais lindas palavras de amor são ditas no silêncio de um olhar “ (Leonardo da Vinci). E há silêncio no amor, um silêncio que nem a voz muda de corpos nus quebra!

Como há quem ame em silêncio toda a vida, como se o destino se encarregasse de cruzar amor e sofrimento na esquina de um fado de amores proibidos.

Mas o silêncio também é ódio e raiva. Prazer e dor. E traição!

Não é verdade que, como atribuído a Confúcio, o silêncio seja “um amigo que nunca trai”. Tantas vezes o silêncio trai… O silêncio trai e é traído. Trai-se muitas vezes o silêncio, traindo-se sempre muito mais do que isso!

 

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