Há 10 anos
Portugal foi o primeiro país a ratificar a chamada regra de ouro do pacto orçamental europeu. Antes de qualquer outro, e antes das eleições presidenciais francesas, onde o esperado e confirmado candidato vencedor anunciava mandá-lo às malvas.
Um governo que dificilmente conseguirá conter o défice nos 5,5% a que este ano está obrigado, apressou-se para ser o primeiro a ratificar um tratado que o obriga a um défice máximo de 0,5%. Quando nada o obrigava a isso, e quando tudo aconselhava a uma pausa, a um prudente wait and see!
Quando a questão das eurobonds cai em cima da mesa com um estrondo nunca antes visto, imposta pelas lideranças francesa, italiana, irlandesa e mesmo as do próprio BCE e da comissão europeia, e começa inclusivamente a ver alguma flexibilidade da parte da Alemanha, o nosso primeiro-ministro chega-se à frente e afirma peremptória e inequivocamente que nem pensar. Eurobonds nunca!
Poderíamos até perceber a famosa e mil vezes repetida expressão de nem mais tempo nem mais dinheiro, ou o repetido anúncio de que iríamos para além da troika, como parte integrante da estratégia de comunicação externa. Para a Europa e o Mundo ouvirem bem alto enquanto, de baixinho e com pinças, se ia tratando com o FMI, o BCE e a Comissão Europeia dos inevitáveis mais dinheiro e mais tempo. Era isto que se esperava que, responsavelmente, estivesse a acontecer!
Dava-se até de barato que aquela camisola amarela na ratificação do tratado, apesar de injustificada e injustificável, pudesse fazer parte de um jogo de charme e sedução para levar por diante aquela estratégia. Mas, quando somos os que mais temos a ganhar com as eurobonds, vermos o nosso primeiro-ministro desalinhado com os que as estão defender e, uma vez mais, dar o passo em frente e assumir o comando desta frente de batalha, percebemos que não é nada disso. Percebemos que é mesmo assim, que todas estas atitudes nada têm de estratégico na defesa dos interesses do país. Que são apenas faces da mesma moeda ideológica!
E percebemos uma coisa verdadeiramente dramática: este primeiro-ministro, e este governo, entre a defesa do país e a dos seus princípios ideológicos, não hesitam. Preferem colocar-se ao serviço da ideologia. Isto é fundamentalismo ideológico, do mais radical!