Há 10 anos
Quando o governo parecia respirar de alívio – tranquilidade a que verdadeiramente não atribui grande valor, como bem se percebe – resolveu, com a nomeação de um Secretário de Estado, criar mais um factor de tensão e regressar ao clima de afronta.
Com o número do regresso aos mercados, e com a máquina de comunicação a funcionar em pleno e sem grandes argoladas, o governo, pela primeira vez nos últimos largos meses, logrou criar a impressão de que alguma coisa começava a correr bem. É certo que ia passando a ideia de dois países sem qualquer ponto de contacto: o país que regressava aos mercados não batia certo com o país da miséria crescente, do desemprego e da recessão. Mas sabe-se como é, de tão fartos de más notícias, tendemos a acreditar mais facilmente nas boas, mesmo que não sejam tão boas como as pintam!
Depois, o PS dava uma ajuda ainda maior. Se na realidade não vinha fazendo oposição nenhuma, deixando sempre ao governo uma larga zona de conforto, decidiu avançar para manobras de diversão que apenas mais o desacreditaram como alternativa.
A verdade é que, com papas e bolos para enganar os tolos, e sem oposição como alternativa, o governo começou a achar que as coisas começavam a perder toda a graça. Nada como agitar rapidamente as águas, procurar a turbulência que lhe devolve a adrenalina da governação.
E até um arremedo de remodelação lhe serviu para isso. A demissão de um secretário de Estado, ao que se disse por motivos de um concurso em que teria privilegiado um primo, deu o mote para uma remodelação sem “dignidade para ocupar grande destaque político”, nas próprias palavras do primeiro-ministro . Despachou seis secretários de Estado – mantendo, no entanto, o que se diz ser o verdadeiro patrão do ministério da economia e que, num rasgo só ao alcance de verdadeiros visionários, garante que o desemprego está a crescer porque no passado vivemos acima das nossas possibilidades, criando-se emprego que não era necessário - e foi buscar sete novos, entre os quais alguém que tinha no currículo – mesmo que convenientemente apagado – uma passagem pela administração da SLN, a sociedade proprietária do BPN da nossa ruína.
Não está em causa a competência do senhor, nem mesmo – enfim - a sua idoneidade, que poderá ser até pessoa respeitável. Nem sequer qualquer comparação, em contextos de alguma forma idênticos ou paralelos, entre a atitude de Miguel Cadilhe e a dele próprio. Não é disso que me vou ocupar!
O que importa e que na circunstância releva, é que qualquer pessoa percebia que aquela nomeação iria correr mal. O BPN está demasiado fresco na memória e no bolso de todos nós para que alguém que lhe esteja de algum modo associado possa integrar o governo à vista de todos nós. É certo que sabemos que Dias Loureiro continua com a sua influência intacta no governo, mas não se vê. É diferente!
O próprio agora Secretário de Estado da Inovação de do Empreendedorismo, percebeu isso. Tão bem que apagou – repondo depois de apanhado - isso do seu currículo. Pedro Passos Coelho - já o mesmo não direi do ministro Álvaro Santos Pereira, que é pessoa mais distraída e tem sempre a desculpa de não ser de cá, de vir de fora – sabia bem que ia correr mal. Sabia que, mais que mais um erro político grave, era mais uma afronta. Arrogante mesmo!
Mas não lhe consegue resistir. Ele gosta de desafios, da adrenalina sempre em alta. E começar desde já a reabilitar personagens ligadas ao maior escândalo político e financeiro de sempre é um desafio que não o assusta!