Há 10 anos
Se alguém tinha dúvidas que batemos na parede deve tê-las perdido com a entrevista do chefe da missão do FMI publicada no Jornal de Negócios. Não que Selassie tenha dito algo muito diferente do que já se tinha ouvido da parte das instituições europeias. Mas porque reforçou essa linha que já separa o governo da troika, dando expressão ao ditado popular segundo o qual, em casa onde não há, pão todos ralham e ninguém tem razão. Porque zangam-se as comadres e descobrem-se as verdades!
O próprio Durão Barroso já havia dito que a culpa de tudo isto era do governo – a responsabilidade da aplicação dos programas de ajustamento é dos governos nacionais, foram as suas palavras – e de Bruxelas já tinham apontado o dedo ao governo, responsabilizando-o pela opção de fazer o ajustamento pelo lado da receita, descurando a despesa.
O governo já tinha respondido. Atabalhoadamente, de forma ridícula, mas não deixava de ser resposta: afinal, o programa da troika, aquele que adoptara como seu, para além do qual queria ir, estava mal desenhado. A troika tinha desenhado mal o programa, e por isso as coisas não batiam certas!
Agora, Selassie diz que “não há muito mais a ser feito … para estimular o crescimento”, que “ a bola agora está do lado do governo” ou que “a troika tem sido pragmática o suficiente para acomodar as medidas que o governo tem encontrado”. E põe o dedo n(um)a ferida: “é muito desapontante que os preços da luz e das comunicações não desçam”! “ É muito importante que o debate sobre as rendas excessivas em alguma áreas da economia seja revisitado. Este é um aspecto muito importante para garantir uma justa repartição do esforço de ajustamento”…
Pois é. O governo disse querer ir além do Memorando para ficar no exacto ponto de certos interesses, e muito aquém do interesse público: aí está uma das verdades que a zanga das comadres vai pondo a descoberto!