Há 10 anos
Criado o mito da credibilidade externa, e voltando a recorrer à táctica da mentira repetida e à memória curta dos portugueses, o governo passou a criar e a alimentar outro, o mito número dois: que está a fechar o programa de resgate encomendado e assinado por outros.
À medida que se foi deixando encurralar pelos seus sucessivos falhanços o governo começou a lançar a ideia de que nada tinha a ver com a troika e com o seu programa. Que simplesmente lhe tinha calhado em sorte a missão patriótica - quiçá divina - de salvar o país, que está a levar a cabo com grande constrangimento mas não menor determinação. Começou pelo discurso da pesada herança - a que tinha começado por tentar resistir- e rapidamente passou para o papel de quem não tem nada a ver com isto.
Hoje, na Assembleia da República, ao primeiro momento de aperto, Passos Coelho voltou a sacar do seu mito número dois, pouco preocupado se um dia jurara ir para além da troika. Nada incomodado por ter anunciado que o programa de resgate era o seu programa de governo. Rigorosamente nada constrangido pelas imagens de Catroga nas televisões e no seu próprio telemóvel, na assinatura do memorando da troika. Que, com Portas, usou como escadote para subir ao pote...
E, claro, sem sombra de preocupação em dizer que está tão à beira (um ano, precisamente) de fechar um resgate como de abrir outro. Bem mais difícil, infelizmente!