Há 10 anos
Quatro dias depois de conhecido o acórdão do Tribunal Constitucional – que deixava passar umas e impedia outras das muitas medidas que toda a gente, governo incluído, sabia que eram inconstitucionais – em vez de começarmos a conhecer as alternativas que o governo deveria ter preparado, assistimos a um processo de dramatização com propósitos que, sendo escuros, estão claros.
Evidentemente que o governo tinha um plano B. O pano A é o de mandar barro à parede do Constitucional. É o B que contém as medidas a implementar, sempre sob o espectro da inevitabilidade.
Só que desta vez Seguro não lhe abriu apenas mais uma janela de oportunidade, escancarou-lhe as janelas e as portas todas. Por isso Passos Coelho empata, pede aclarações, deixa andar e dramatiza. Conta para isso, como sempre, com a imprensa, particularmente com a especializada, que invariavelmente faz do Tribunal Constitucional o mais odioso órgão de soberania. Que se substitui ao executivo, que bloqueia o país, que não permite cortes na despesa e obriga o governo a aumentar de impostos. Que impedem o crescimento que estava lançado e manda o país de regresso à banca rota… Falam de novo resgate – seguem a Bíblia, o Financial Times, que de imediato lembrou a persistência dos “riscos de um novo empréstimo de resgate”- quando até aqui entregavam os foguetes ao governo e iam depois apanhar as canas da saída limpa. Apregoavam o sucesso do programa, o milagre económico, o crescimento mesmo quando não existia e tantas outras maravilhas.
A coisa está hoje tão preta que nem os números do desemprego – não importa agora se há emigração, limpeza de ficheiros, desistência de procura de emprego ou formação disfarçada de emprego – hoje apresentados merecem qualquer nota. Fosse há uma semana atrás e ninguém calaria tamanho feito, cantado por toda a parte, tanto quanto ajudassem o engenho e a arte…
Não. Agora é que o “país está bloqueado, e tem de haver uma solução política, eventualmente a partir de Belém, e de Cavaco Silva”…
Bem me parecia. É curioso como me apercebi logo dessa tentação irresistível!