Há 10 anos
Temos a noção que é o sector exportador que tem vindo a segurar a economia nacional nos últimos anos. O mercado interno, se não morreu, não anda muito longe disso…
Contam-nos maravilhas desse sector. É sucesso em cima de sucesso, êxitos atrás de êxitos… A coisa só fica mais estranha quando as exportações caem, e nos vêm dizer que foi assim porque uma parte da refinaria de Sines teve que parar para manutenção. Fica tão mais estranho quanto, por enquanto, ainda não foi descoberto petróleo em Portugal. Nem aqui em Alcobaça, onde há tanto tempo andam à procura dele…
Sabemos que as exportações portuguesas estão extraordinariamente dependentes dos combustíveis e do sector automóvel. Deste, sabemos que é Auto Europa, o resto são aquelas fábricas que todos os dias vão fechando ou encerrando turnos, como ainda agora voltou a suceder na PSA de Mangualde, lançando novas centenas de trabalhadores no desemprego. E da Auto Europa sabe-se como é: sempre de coração nas mãos à espera de um novo modelo. E da boa vontade dos alemães…
Mas pronto, essa é a nossa sina. Valha-nos que operamos autênticos milagres nos sectores tradicionais, em especial nos têxteis e ainda mais em especial no calçado. Que mudou por completo de paradigma, passando da tradicional mão-de-obra intensiva e da vergonha da exploração de mão-de-obra infantil para unidades de alta tecnologia e, antes e depois de tudo, de design e marca. De alto valor acrescentado, levando o calçado português ao topo dos mercados, em pé de igualdade com o italiano…
É isto que nos contam, não é?
Já estive bem por dentro da indústria, em empresas nacionais e internacionais. Estou afastado desta actividade há mais de vinte anos, mas confesso que me faz alguma confusão articular todo este sucesso da indústria nacional do calçado com o preço médio unitário de exportação, e mesmo com a sua evolução. O preço médio do par de calçado exportado foi de 23,12 euros em 2013, pouco mais de 3% acima dos 22,29 do ano anterior...
Tenho alguma dificuldade em associar a estes preços um grande impacto de factores de prestígio, como marca e design. E ainda mais em descortinar ali uma grande expressão de criação de valor… Posso estar enganado, mas parece-me que se andam a contar demasiadas histórias acerca das exportações.
Não se pode negar o sucesso de marcas como Luís Onofre, ou mesmo Fly London ou Pablo Fuster, por exemplo. Mas muito menos se pode afirmar que são o padrão das nossas exportações!