Há 10 anos
Vítor Bento bateu com a porta e foi-se embora, de mãos a abanar, não se cansa a imprensa de salientar, como se o normal na vida real, não seja – e deva ser – isso, quando alguém sai ao fim de dois meses.
Não é no entanto esse o ponto. Por agora o ponto é que Vítor Bento foi embora e, percebemos todos rapidamente que fez um grande favor ao governador Carlos Costa. Porque, como explicou o próprio demissionário, era oportuno que fosse substituído por alguém alinhado com o accionista.
O motivo do desalinhamento é, obviamente – tão óbvio quanto a forma como surgiu e foi divulgada a pressa –, a urgência súbita na venda do banco. Vítor Bento sabe, como todos sabemos, que vender à pressa é sempre sinónimo de vender mal. E sabendo isso, mesmo que sem recorrer à parodiada rábula de Seguro (qual é a pressa? …qual é a pressa?), não percebe qual é a pressa!
A pressa, esta pressa, é apenas mais um traço do calendário político que, percebe-se agora com toda a clareza, sempre marcou o maior escândalo financeiro do país, agravando-lhe as consequências. Foi a agenda política – do governo e da troika, não sobra hoje qualquer dúvida – que fez com que a bomba, descoberta no final de 2013, fosse atirada para a frente, para vir a cair já depois da saída limpa. É a agenda política que agora impõe a venda à pressa, para que o governo se desfaça, antes das eleições, do incómodo embrulho que também criou.
São os interesses políticos a sobreporem-se a todos os outros, sempre com os piores resultados. Sabendo-se que os actos mais danosos cometidos pela administração Espírito Santo aconteceram durante o corrente ano, e especialmente no segundo trimestre, ao que diz o próprio Banco de Portugal, fica a saber-se que teriam sido evitados se o interesse nacional se tivesse sobreposto ao interesse político de esconder o problema até à saída do programa da troika, a tal data épica, histórica, que Paulo Portas comparou ao 1º de Dezembro de 1640.
O preço dessa intrujice é hoje fácil de calcular, e atinge muitos milhares de milhões de euros. O desta serão apenas mais uns milhares de milhões em cima desses milhares de milhões… Sempre com Passos Coelho sem nada a ver com isto, a apenas ter que enaltecer o papel do governador do Banco de Portugal... Que lata!