Há 10 anos
Já se começou a perceber aquilo que, pela minha parte, mais temia: que António Costa vai recolocar o PS no poder para repetir o que para trás foi feito. Para simplesmente manter a alternância, perpetuando os erros, mesmo que com muito menos espaço para errar.
Arriscamo-nos seriamente a prosseguir um ciclo inimaginável, que começou no início do século, em que cada governo é pior que o anterior. Pensávamos que não podia haver pior governo que o de Santana Lopes. Mas veio Sócrates que, depois de resistir a um primeiro mandato, que começara a prometer muito e acabara a anunciar o que aí vinha, acabou a meio do segundo, atolado em mentira e incompetência, deixando o país entregue aos credores, já na pele do mais odiado primeiro-ministro e de pior governo da história da democracia. E veio Passos Coelho, mentindo em tudo e a todos. E, depois de Sócrates nos mostrar que era possível ser pior que Santana, prova-nos que é ainda possível ser pior que Sócrates.
Custa-nos a crer que seja possível pior que Passos e Portas …e Pires de Lima… Não julgamos isso possível, mas também já percebemos que, nisto, não há impossíveis!
A primeira mensagem deste risco foi-nos dada pelo novo líder da bancada parlamentar, logo que iniciou funções. Ferro Rodrigues, que tinha sido um dos subscritores do chamado Manifesto dos 74, cujo objectivo era justamente trazer a reestruturação da dívida para a discussão pública, e em especial para a Assembleia da República, tratou de se demarcar logo que o assunto da dívida lá chegou, conduzindo o PS para a abstenção e acabando logo ali com a discussão.
Sobre o tema, que é central para o país, nem mais uma palavra. António Costa, que até pela sua morfologia não podia continuar a tentar passar entre os pingos da chuva, tinha que dizer alguma coisa. Conseguiu apresentar esta semana a sua moção estratégica ao congresso sem se molhar, sem dizer nada. E mesmo na “Agenda para a Década”, supostamente com medidas e propostas concretas para um horizonte temporal de dez anos, continua a fugir a este problema central.
Renegociar ou reestruturar são palavras proibidas. Constata o “elevado grau de endividamento do país” e diz que o país tem de tomar iniciativas de “redução sustentada do impacto do endividamento, seja na construção de instrumentos que estimulem a procura e o investimento europeu em paralelo à promoção da coesão interna da UE”. Se bem entendo isto, quer dizer que o problema da dívida, como de resto todos os outros no discurso de António Costa, se resolve com crescimento (“procura” e “investimento”) - como se o crescimento económico seja algo que se decreta, um meio, e não um fim - e com boa vontade da UE. Se a experiência nos diz que da boa vontade da UE não há muito a esperar, a ciência económica diz-nos que a dívida – os juros – impede o crescimento!
Não quero com isto dizer que António Costa deveria andar por aí a dizer que a primeira coisa a fazer quando chegasse ao poder seria renegociar da dívida. Quero apenas dizer que, fugir desta forma do problema maior do país, é sinal de incapacidade de mudar o que quer que seja. O problema é que agora, sem mudar nada, não fica tudo na mesma. Fica muito pior!