Há 10 anos
Parece evidente que a Justiça entrou numa nova fase. Não sei se decorre da mudança na Procuradoria Geral da República. Ou se, por outro lado, terá alguma coisa a ver com a percepção, por parte do poder judicial e perante a degradação geral das instituições, que teria de assumir as suas responsablidades perante o país. Que tinha de dar um sinal de esperança aos portugueses. Poderá ter tudo a ver com tudo isso, como poderá não ter nada a ver com isso... Não importa, o que importa e é inegável, é que a Justiça perdeu o medo de afrontar os poderosos. E que isso abre uma nova era!
Esta é uma mudança que tem de se saudar. Por muito que choque muita gente, que preferiria manter a paz podre, continuando a varrer toda a porcaria para debaixo do tapete.
Como Clara Ferreira Alves, aterrorizada com esta "Justiça de terceiro mundo" que "ataca o regime e o que ele representa", sem cuidar de exactamente do ponto a que o regime chegou. E do que representa ... Como Pedro Adão e Silva, que diz que "temos na sociedade portuguesa um exercício de poder da parte das magistraturas com muita arrogância e que questiona os alicerces do Estado democrático", sem questionar o estado em que estão esses alicerces. Ou como o anterior PGR, Pinto Monteiro, que ao explicar a infeliz coincidência do seu almoço da semana passada com Sócrates, diz que "está a haver um aproveitamento político num caso jurídico" e que há agora "uma promiscuidade entre política e justiça", quando não enxerga que é ele próprio que surge aos olhos dos portugueses como agente principal dessa promiscuidade.
Claro que há problemas. Claro que não é aceitável que continuemos a assistir a fugas de informação. Não é admissível que certos orgãos de comunicação social - sempre os mesmos - tenham acesso a informação que deveria estar protegida. Não é tolerável que estações de televisão assistam à detenção, nem que um jornal tivesse uma edição especial pronta a sair. Também não é de bom gosto que as televisões façam disto uma telenovela, e disso já a Justiça não tem culpa nenhuma. Mas não se tome a núvem por Juno!
E acima de tudo desmacare-se quem usa as tribunas de opinião e uma suposta isenção jornalística para virar tudo ao contrário. Que é o que fazem Clara Ferreira Alves e Pedro Adão e Silva, que chegou há momentos, na SIC Notícias, ao desplante de afirmar que, ao decretar a prisão preventiva para Sòcrates, o juiz estava a negar-lhe a presunção da inocência e a afirmar a presunção da culpa!