Há 10 anos
Confesso que, quando foi conhecida a notícia, pensei que a decisão da RTP de negociar os direitos de transmissão dos jogos de futebol da Liga dos Campeões tivesse sido partilhada com o governo. Por isso achei – e disso aqui dei nota – completamente disparatada aquela tirada do Presidente do Conselho de Administração da RTP (CA da RTP), Alberto da Ponte, quando disse tratar-se de uma decisão editorial com a qual nada teria a ver. Não era, nem obviamente podia ser!
Percebeu-se logo a seguir que o governo estava contra essa negociação. E não foi sequer pela tutela, foi pelo ministro Marques Guedes, o da pasta política do governo. Só depois se chegaram à frente outros ministros, entre os quais Poiares Maduro, o da tutela, e só depois surgiu o tal Conselho Geral Independente da RTP, a bacia em que, depois das trapalhadas do costume, Passos Coelho quer lavar as mãos. Que, Conselho será certamente… Geral será ou não, mas nem aquece nem arrefece…Independente é que toda a gente vê que não!
Poucos prediriam, no entanto, que viesse a acabar numa guerra aberta que culminasse na destituição CA da RTP. E que no meio dessa guerra viéssemos a saber que, afinal, ainda a 31 de Outubro, há apenas um mês, o governo teria incluído no contrato de concessão uma cláusula que prevê que a grelha da RTP1 inclua a "transmissão de eventos que sejam objecto de interesse generalizado do público", designadamente jogos de futebol da Liga dos Campeões, "devendo a concessionária posicionar-se no sentido de adquirir os respectivos direitos televisivos (…) desde que tal aquisição se enquadra nos seus limites orçamentais”.
Mais do que dizer que o CA da RTP estaria legitimado para efectuar esse negócio – até porque sempre vincou que tinha cabimento orçamental, o que o governo nunca contestou – isto parece querer dizer muitas outras coisas. Uma delas é, claramente, que o governo está a assumir as dores das televisões privadas. Não há outra explicação: há um mês o governo entendia que a RTP deveria negociar a transmissão dos jogos. A única alteração foi os concorrentes privados queixarem-se disso!
Não é por acaso que o governo não usa qualquer argumento económico, orçamental ou estratégico, para se fixar em “irreparáveis quebras de confiança”. Que a grande acusação é o CA da RTP não ter informado antecipadamente. Não será também por acaso que só se fala nos 18 milhões (que afinal são 15) da compra, sem que ninguém fale dos proveitos e na margem de contribuição do negócio.
A ideia que fica é que o governo, incompetente como é, só se lembrou da sua matriz ideológica quando os privados, para mamar, choraram!