Há 10 anos
Com o Presidente da República – nitidamente em contra mão e em choque frontal com os interesses do país e até com muitas das posições que recentemente defendeu, entre as quais a de que o país não pode entrar num novo ano sem o respectivo Orçamento – a manter as eleições lá para o início do Outono, era praticamente inevitável que a corrida para as presidenciais acelerasse por esta altura.
Para as candidaturas presidenciais não há Verão. Só há férias. No Verão só vai haver tempo para isso, para férias, e para as legislativas. Qualquer iniciativa seria tão condenada à efemeridade como os desenhos na areia à mercê das ondas da praia. Depois das legislativas sobrarão pouco mais de dois meses, já não há tempo…
A não ser para Marcelo Rebelo de Sousa, que arrancou há quatro anos – e já com tudo preparado há muito mais tempo – que se mantém confortável no seu cadeirão televisivo a marcar o tempo e o compasso (e ainda por cima lhe pagam por isso, e bem, ao que se diz), aos putativos adversários, enquanto vai metendo debaixo do braço a maior máquina partidária do país, que não descura por nada… Para ele há tempo para tudo, até para fazer crer que há ainda Rui Rio!
Portanto, e ao contrário do que por interesse próprio diz o próprio Marcelo, não é cedo para o surgimento das candidaturas presidenciais. É este o tempo, e não há nisso nada de surpreendente.
Como também não é verdadeiramente surpreendente a autêntica chuva de candidatos que para aí vai, mesmo num país com tão baixos níveis de participação cívica. E não é, embora também lá esteja um ou outro, gente à procura dos seus cinco minutos de fama.
Dir-se-á que as presidenciais serão sempre propícias a este fenómeno. São, antes de tudo, eminentemente pessoais. E constituem também as únicas circunstâncias em que o regime admite toda a iniciativa ao cidadão, em que o regime não empurra para trás quem dê um passo em frente…
Mas não consigo dissociar esta chuva de candidaturas – apesar de estar profundamente convencida que, nas urnas, não será batido o recorde das eleições de 1986, as únicas até hoje com segunda volta, então com oito candidatos presidenciais – do momento político e social que o país atravessa, do estado a que o país chegou e, acima de tudo, do desgaste que atingiu um regime que dá sinais de esgotamento. Vê-se contestação aos partidos do regime. Percebe-se indignação!
Leiria não escapou nem a esta chuva, nem a esta onda. E conta com o inédito de dois candidatos: Henrique Neto, o primeiro a avançar, e Cândido Ferreira, um dos últimos. Curiosamente ambos saídos do mesmo partido, o PS, cuja reacção à candidatura de Henrique Neto, mais que lamentável, foi absolutamente deplorável. Mas acrescentou-lhe notoriedade e alargou certamente o espaço de simpatia da candidatura. Até porque não ofende quem quer… E há gente no PS que tem mesmo muita dificuldade nisso…
Não sei se chegarão ambos às urnas. Gostaria que sim, evidentemente. Já quanto a votos, o meu, para já, é que tudo lhes corra bem!