Ilusão de regresso
Todos percebemos da urgência em regressar à normalidade, mesmo que nos digam será sempre uma nova normalidade, e não a normalidade normal.
O trambolhão de 2,5% da economia no primeiro trimestre, que contou com apenas 15 dias de confinamento, metade de um mês e apenas um sexto do trimestre e um vinte e cinco avos do ano, e os 22% de crescimento do desemprego só no passado mês de Abril, são bem mais assustadores do que os mais pessimistas poderiam fazer crer. Para minimizar a catastrófica dinâmica natural destes números - sabendo que três meses já ninguém nos tira, é só fazer contas - é mesmo indispensável criar um espectro de normalidade.
Os nossos dirigentes políticos percebem isso, e temos que reconhecer que estão a fazer tudo para que as coisas se pareçam o mais possível com a normalidade. Almoçar no restaurante, com autênticas conferências de imprensa cheias de coisa nenhuma à porta de entrada, é uma das suas mais mediáticas iniciativas.
Ontem viu-se o Presidente Marcelo despreocupadamente a conversar cá fora com os jornalistas, mas sentado à mesa, lá dentro, com máscara e luvas, com o seu chefe da casa civil com viseira, e percebemos que não consegue passar por aquilo qualquer mensagem que não seja a de criar uma nova normalidade.
Criar uma nova normalidade não tem nada a ver com o regresso à normalidade. Não passa de ilusão de regresso. E as ilusões não dão normalmente bons resultados!