Inacreditável - Parte II
Há uma semana foi inacreditável como o Benfica perdeu aquele jogo. Hoje foi inacreditável como o Benfica ganhou este jogo, em Turim, e acabou a garantir o apuramento para o play-off de acesso aos oitavos de final da Champions.
Há uma semana foi inacreditável porque o Benfica esteve em vantagem folgada no marcador, e acabou traído - também por falhas próprias, é certo, mas que fazem parte do jogo - por uma arbitragem escandalosa, que transformou uma vitória numa derrota.
Hoje foi inacreditável como, depois da exibição e da derrota de sábado passado, com o Casa Pia, e especialmente de tudo o que de lamentável se lhe sucedeu, a equipa se apresentou em Turim para jogar com a Juventus. Ir ganhar à Juventus de forma tão clara, demonstrando uma competitividade, um espírito de equipa e uma organização de tão elevado nível, era de todo improvável depois do terramoto do fim-de-semana com epicentro naquele áudio deplorável.
Que Rui Costa prometera explicar e esclarecer em Turim, depois do jogo. Não explicou nada, e apenas deixou esclarecido que a exibição e o resultado resolveram tudo. O futebol é isto, é também um jogo do gato e do rato, em que as vitórias ora curam tudo, ora escondem tudo.
O contexto do jogo, todos o percebemos, não podia ser pior. Bruno Lage estava mais que fragilizado, e crescia o impedimento de Carreras, há meses o jogador do Benfica em melhor forma. Muito mais que um lateral esquerdo - ele é defesa, é ala e é até o 10, e o melhor transportador de bola da equipa. E no entanto tudo saiu perto da perfeição.
Com Bah, a fazer de lateral esquerdo, na única alteração àquele que é o onze base de Bruno Lage, o Benfica entrou no jogo decidido a mostrar que trazia fragilidades de nenhuma espécie. Que a haver fragilidades elas estavam na Juventus. Começou logo aos 32 segundos, com Pavlidis a centímetros de desviar para a baliza um centro de Di Maria. Continuou aos dois minutos, com Schjelderup a falhar uma grande oportunidade, que repetiria cinco minutos depois, na primeira grande defesa de Perin, o tal que esteve na Luz, há pouco mais de cinco anos. Pelo meio a única defesa a sério de Trubin na primeira parte.
A superioridade do Benfica começou a ganhar expressão no marcador logo à passagem do primeiro quarto de hora, como o golo de Pavlidis, a concluir uma jogada simples: passe longo, a rasgar, de Otamendi, Bah a ganhar na antecipação ao central Gatti e a deixar bola para o grego fuzilar Perin. E poderia ter-se aproximado mais da realidade da exibição mesmo ao fechar a primeira parte, se o mesmo Pavlidis, isolado em frente a Perin, e ainda com Schjelderup e Di Maria em linha de passe, não tivesse optado por rematar e permitir uma fantástica defesa ao guarda-redes italiano, com a bola a acabar por cair sobre a barra da baliza, quando parecia levar o caminho das redes.
Na segunda parte o registo do jogo não se alterou. O Benfica continuou a controlar o jogo e a Juventus apenas por meia dúzia de minutos, na transição do primeiro para o segundo quarto de hora, com as duas substituições operadas por Thiago Motta, empurrou o Benfica para trás e ameaçou a área de Trubin.
Bruno Lage refrescou a equipa, retirando Di Maria e Schjelderup para entrarem Aktürkoğlu e Leandro Barreiro. Que trouxe uma nova dimensão às saídas da equipa e, à entrada do último quarto de hora, falharia um golo feito. O segundo, já mais que justificado.
Que chegaria pouco depois, aos 80 minutos, em mais uma fantástica jogada colectiva do Benfica, com Aursnes a conduzir pela direita, o passe de Pavlidis e a simulação de Akturkoglu, a deixar a bola redondinha para Kokcu atirar colocado para o 2-0. E deixar o jogo definitivamente arrumado, e a Juventus sem capacidade de reacção.
Foi notável o trajecto do Benfica fora de casa. Apenas perdeu em Munique, com o Bayern, no tal jogo do 0-1. Ganhou claramente os restantes três. Ao contrário, em casa, apenas ganhou naquela goleada de 4-0 ao Atlético de Madrid. Na verdade apenas perdeu bem o jogo com o Feyenoord, em teoria o mais acessível. Mas é o oito ou oitenta desta equipa. Acabou no 16º lugar, o segundo do grupo dos 13 pontos, atrás do PSG, que ao marcar quatro golos em Estugarda (4-1) ficou com um golo de vantagem.
Não fossem os muitos oitos e, na Champions, o Benfica tinha atingido o apuramento directo para os oitavos de final. E no campeonato, em vez dos 6 pontos de atraso, levaria mais de 10 de avanço.
E para isto não há explicação. Na verdade, para o resto também não.