(In)capacidade de decisão
A notícia da demissão de Jorge Jesus surgiu logo pela manhã. Que o treino, o primeiro desde o jogo da última quinta-feira no Dragão, foi cancelado e que os jogadores regressaram às suas casas, não há dúvidas. As câmaras das televisões mostraram-no. Do resto, oficialmente, ainda nada se sabe. Sabe-se que Rui Costa chegou ao Seixal às 10 horas, o que, se não disser muito, diz que é tarde para o que se vive no Benfica.
E sabe-se que, se hoje é, finalmente, o dia do adeus definitivo de Jorge Jesus ao Benfica, é também o primeiro dia do resto da presidência de Rui Costa. É o dia em que - só não vê quem não quer ver, mais uma vez - Rui Costa deixa à mostra que não tem capacidade de liderança para ser Presidente do Benfica. Não há líder sem capacidade de decisão. Um líder pode não ter grandes competências, nunca pode é não ser capaz de decidir!
Rui Costa foi um dos maiores jogadores de futebol da História, com uma carreira ao mais alto nível. E está há uma dúzia de anos na estrutura directiva do Benfica, os últimos dos quais em declarada preparação para assumir a presidência natural do clube. Percebeu - tinha de perceber! -o rumo de destruição em que caiu futebol da equipa. E dispôs-se a simplesmente assistir. Com toda a experiência de jogador e dirigente, e perante a realidade da equipa e do treinador, sabia, como todos sabíamos, que, se dependesse dos jogadores, Jorge Jesus já lá não estaria há muito. Ao permitir que estes dois jogos com o Porto do final de ano se transformassem na decisão do futuro do treinador, Rui Costa entregava nas mãos dos jogadores a decisão que só a ele cabia. Bastava-lhe jogar como jogaram o primeiro dos dois jogos no Dragão. E, se não bastasse o primeiro, haveria ainda um segundo para fazer o mesmo. Depois, ao não intervir no que se seguiu ao jogo de quinta-feira passada, deixou nas mãos de Jorge Jesus a decisão que nunca tomou.
Para um líder, uma não decisão é sempre muito pior que uma má decisão. A não decisão de Rui Costa resultou no achincalhamento do Benfica. No campo, na última quinta-feira no Dragão. E na praça pública, com um inacreditável encontro público do treinador com os dirigentes do Flamengo, a dois dias de um jogo decisivo. E com uma equipa toda uma semana sem treinar entre dois jogos que decidem uma época!
Disto, nunca mais Rui Costa se vai libertar. E o Benfica, sabe-se lá quando ...
Os benfiquistas percebem que há muito não há um projecto para o futebol. E que esse projecto só é possível depois de uma completa vassourada nos técnicos, nos dirigentes e até no balneário. E que isso só se faz com capacidade de decisão e liderança indiscutível, atributos que Rui Costa acaba de mostrar que não possui.