Ironias eleitorais
Ainda se não conhecem oficialmente os resultados das eleições de há semana e meia - só lá mais para o fim da tarde - mas já se sabe o suficiente para afirmar que não houve "escândalo". O cenário, improvável mas possível, de ganhar hoje quem perdera no passado dia 10, e de perder hoje quem já fizera a festa, não se confirmou. Já basta o que basta, não é preciso mais confusões.
Não houve "escândalo", mas houve "golpe de teatro": Augusto Santos Silva, o anterior Presidente da Assembleia da República, candidato pelo círculo de fora da Europa, não foi eleito. É a primeira vez que uma coisa destas acontece, e é uma pesada derrota pessoal. De um homem que era uma espécie de "sempre em pé" do PS, de governante eterno, e que aspirava ser Presidente da República.
Já não tem por onde continuar a aspirá-lo. Ironicamente "morreu" às mãos do Chega - que elegeu dois dos quatro deputados disponíveis, um deles, no círculo fora da Europa, que ficou precisamente com o lugar que Santos Silva tinha por garantido - que utilizou na Assembleia da República como lançamento daquela aspiração. Não se pode dizer que não tenha tido mérito nas polémicas parlamentares travadas com André Ventura, mas também não se poderá deixar de dizer que as utilizou para suscitar a oportunidade (e sabe-se como é importante "chegar-se à frente" nestas coisas das candidaturas presidenciais) e promover à sua volta a auréola de candidato da esquerda antifascista.
Não é, no entanto, menos irónico que esta derrota seja uma importante vitória para o PS. Para este, de Pedro Nuno Santos. A "reforma compulsiva" de Augusto Santos Silva vai dar-lhe muito jeito. E não é só na escolha do candidato presidencial!