Já não há assim tanto para contar... (I)
Por Eduardo Louro
Chegou a altura da viragem no título. Havendo ainda que contar, já não há assim tanto para contar…
Já se vai sabendo de muita coisa. Não será tudo, mas muito é já do conhecimento público. Cá e pelo mundo fora: hoje não houve jornal, televisão ou agência internacional que não trouxesse o grupo e o próprio Banco Espírito Santo para as primeiras páginas!
Sabe-se que, só no papel comercial que o grupo não tem capacidade para pagar, a coisa vai em seis mil milhões de euros, 900 milhões só na PT. E sabe-se que o buraco total poderá andar perto dos 8 mil milhões. E que parte disso não estava nas contas!
Diz-se – embora a administração do BES continue calada, sem qualquer reacção à suspensão das cotações em Bolsa decretada pela CMVM, e por isso não o confirme nem o desminta – que a exposição do Banco ao grupo é da ordem dos mil milhões de euros. Diz-se que o Banco tem almofada suficiente para acomodar este prejuízo…
Diz-se agora em voz alta, embora já se soubesse, que a família Espírito Santo se julgava acima de tudo. Até da lei! Sabe-se agora que afinal são incompetentes e irresponsáveis os que antes eram dados como todo-poderosos e paladinos da ética dos negócios. Chamam-lhe já vigaristas…
Mas há ainda coisas para contar. Para já, há para contar por que é que a nova administração do BES demora tanto tempo a entrar, para colocar, se não um ponto final, pelo menos um ponto de ordem no descalabro que arrasta já o país. Mas há ainda que contar, muito bem explicadinho, por que é que o Banco de Portugal deixou chegar as coisas a este ponto.
É que se sabe que a supervisão bancária vai passar para o BCE. E há por isso que contar se o regulador nacional só interveio por isso mesmo: apenas porque não podia deixar que isto fosse cair directamente no colo do BCE!
Porque também já se sabe que o BES não recorreu ao fundo de capitalização da banca - garantindo então a sua administração que não precisava, que seria o único grande banco nessa condição - pela única razão que, já na altura, quis esconder as suas contas. Porque não podia abrir as suas portas para as medidas de controlo subjacentes a essa intervenção, como aconteceu no BCP, no BPI e no Banif, se bem que este com outra extensão.