Jogo(s) armadilhado(s)
O jogo desta noite, na Amoreira, cheia de benfiquistas, não era apenas o jogo com o Estoril. Nem era apenas o jogo da jornada 32, o ante-penúltimo da época. Era o jogo que antecedia o dérbi, que tudo vai decidir.
Era um jogo com dois jogos lá dentro, sabia-se. E, desconfiava-se, também um jogo armadilhado.
Sem Carreras - com o quinto amarelo - no onze, e com Dahl no seu lugar, e sem Di Maria, já no banco, depois de ter saído lesionado em Guimarães, há duas semanas, e com Amdouni no seu lugar, o Benfica entrou forte no jogo. A ideia - e bem - seria resolver depressa o primeiro jogo para, depois, jogar tranquilamente (para) o segundo.
A ideia era boa. Como boa era a ideia que o Benfica trazia para o jogo, com a equipa muito subida, a pressionar alto, bem em cima da área estorilista. Os jogadores do Estoril viram-se como que asfixiados, impossibilitados de praticar o futebol associativo que gostam, e sabem jogar. A estratégia rapidamente começou a dar resultados.
Aos quatro minutos já o Benfica estava a criar a primeira situação clara de golo, com Amdouni a desmarcar Aursenes que, isolado, acabou por permitir a defesa do guarda-redes, Robles. No canto, Florentino desperdiçou uma recarga fácil, não acertando na baliza. Logo a seguir, mais uma jogada rápida e bem desenhada, muito semelhante à anterior, desta vez com Kokçü a conduzir a bola e a servir Aursenes, que desta vez não falharia.
O golo não alterou nada do jogo, que continuou rijo, com muita luta pela bola, mas sempre com a mesma toada de domínio benfiquista. Praticamente absoluto, sucedendo-se as oportunidades de lances de golo, que não é bem a mesma coisa de claras oportunidades de golo. Essas não eram assim tantas, porque havia sempre qualquer coisa a não correr bem.
Eram os cruzamentos de Aktürkoglu, eram os remates a Kokçü, ou era a chegada de Pavlidis. E era ... o Sr João Gonçalves, o árbitro do Porto que desta foi encomendado para armadilhar o jogo.
Cedo esse Sr João Gonçalves começou a mexer os cordelinhos: logo no lance inicial, uma falta para amarelo sobre Aktürkoglu à entrada da área estorilista foi transformado num lançamento pela linha lateral a meio campo. Aos 27 minutos, uma falta para amarelo sobre Pavlidis, em cima da linha da área, foi transformado em falta e amarelo para o ponta de lança benfiquista.
À meia hora de jogo o Benfica tinha cinco faltas assinaladas. O Estoril, com jogadores a meter o pé sem dó nem piedade, zero!
A primeira falta assinalada contra o Estoril aconteceu aos 35 minutos, e da sua cobrança, por Dahl, sairia o segundo golo do Benfica, por Otamendi.
De novo nada se alterou com o golo. E o jogo chegou ao intervalo com o 2-0, quer era escasso para reflectir o que se tinha passado no relvado.
O Benfica entrou para a segunda parte no mesmo ritmo, e com vontade em alargar o resultado, para poder passar ao segundo jogo. Acabou por não conseguir voltar a marcar, e por não demorar mais que 10 minutos a fazer o transfer, o que coincidiu com a lesão de Amdouni, substituído por Schjelderup. E o Estoril começou a crescer!
Ainda se não tinha dado pelo crescimento do Estoril, embora já se tivesse dado pelo encolhimento do Benfica quando Otamendi - no melhor pano cai a nódoa - errou um passe e acabou a tocar Begraoui, já dentro da área, com o árbitro a apitar de imediato para a marca de penálti. Com tanta pressa que já não pôde validar o golo, quando a bola acabou por entrar na baliza de Trubin. Que defendeu depois o penálti!
Na recarga, o brasileiro Zanocelo acertou na trave. Mérito, primeiro. Sorte, depois. Mas convinha não abusar...
O treinador estorilista, Ian Cathro - um tipo que parece que sabe o que faz -, fez entrar o ponta de lança espanhol Marqués e o criativo argelino Guitane (um craque, que só aparece nos grandes jogos, e que estranhamente não pegou em Braga), que mexeram com o jogo. E o golo do Estoril acabou por não tardar mais que meia dúzia de minutos, na vingança de Zanocelo.
Que cinco minutos depois deveria ter sido expulso, com vermelho directo - que o tipo do Porto transformou em amarelo - por uma entrada que poderia ter partido a perna do Florentino. Os últimos minutos, incluindo os oito de compensação que o tipo do Porto inventou, não foram muito mais do que repetidas entradas às pernas dos jogadores do Benfica. Que na maior parte delas ainda levavam também com a falta.
Logo a seguir ao golo do Estoril entraram Barreiro, substituindo Aktürkoğlu, e Belotti (Pavlidis), que foram protagonistas de mais uma série de habilidades do tipo do Porto. Ambos participaram numa das últimas oportunidades de golo do Benfica, ao minuto 86, que acabou num penálti sobre o italiano, que o Sr Gonçalves ignorou. Logo a seguir Barreiro foi ceifado pelo Zanocelo, que ainda lá estava, impune a bater em tudo, com o Sr Gonçalves a assinalar falta ... contra o Benfica.
Não se pode calar o que se viu do Sr Nobre, no jogo com o Arouca, o que se viu há uma semana, do Sr Carlos Macedo, no jogo com o AVS, e o que se viu hoje. E não é com comunicados bacocos, quando se perde. Nem com Rui Costa, como se viu hoje, a limitar-se, na rua e meio envergonhado, a dizer "vocês viram" a quem lhe estendeu o microfone.