Lenços brancos em Dezembro
Poderia recorrer-se a uma expressão corrente no futebol para dizer que o Benfica entrou a dormir, e quando acordou já estava a perder. E que a partir daí, com a competência do Sporting a defender, e a contra-atacar, o derbi estava perdido.
Mas não foi só isso que foi o jogo, isso foi o seu início- E o indício do que viria a ser.
Passando para o fim, poderia também dizer-se que o Benfica teve mais bola, e até mais oportunidades de golo. E que afinal perdeu o jogo porque, ao contrário do Sporting, não aproveitou as oportunidades que teve.
Mas, também não foi isso o jogo.
O jogo foi, todo ele, de princípio a fim, um confronto entre uma equipa de autor e outra de geração espontânea. Entre uma equipa que conhece todos os momentos do jogo, e o que fazer com eles. Que funciona mecanicamente, onde cada peça sabe exactamente qual a sua função, e seja qual for a peça, a função é desempenhada. Apenas é preciso que a peça esteja preparada, física e mentalmente, para a função que lhe cabe desenvolver.
Essa equipa é a do Sporting, e Rúben Amorim o seu autor. Dizia-se que surgiria na Luz debilitada pela falta de duas peças fundamentais ao seu funcionamento - Coates e Palhinha. Mas ninguém notou a falta deles, porque o que importa é a função, e essa nunca ficou por desempenhar. Como ninguém deu pela lesão de Fedal, o outro central. O que toda agente notou foi que os jogadores do Sporting entraram no jogo com uma extraordinária agressividade competitiva, que nem dois amarelos no primeiro minuto minimamente abalaram. O que toda a gente viu foi como o Sporting conseguia ter sempre três jogadores a pressionar cada jogador do Benfica que pegava na bola. E que cada jogador do Sporting, quando a recuperava, descobria os espaços para a jogar.
Foi isto que foi todo o jogo. E por isso, as duas bolas nos ferros da baliza de Adan, a ridícula anulação do golo de Darwin por 6 centímetros de fora de jogo do Yaremchuk, e até as circunstâncias em que o Sporting marcou o segundo e o terceiro golo, sempre a seguir a oportunidades desperdiçadas pelo Benfica, parecem meras incidências do jogo. Sempre controlado pelo Sporting, que pareceu sempre ter os melhores jogadores e os mais capazes. Pareceu até que nenhum jogador do Benfica seria capaz de marcar qualquer dos golos que os do Sporting marcaram. E que nenhum dos que os do Benfica falharam - o bola que Rafa rematou à barra apenas aconteceu por falta de confiança para rematar de primeira - seria falhado pelos do Sporting.
E tudo isto - agressividade competitiva, definição de funções, modelo de jogo, condição física e mental - é da responsabilidade do treinador. Como é o treinador que escolhe os jogadores, os que contrata e os que coloca em cada jogo..
Não sei se os lenços brancos no fim do jogo se devem a esta constatação, ou apenas à frustração desta derrota. Mas sei, e há muito, que o treinador do Benfica está comprovadamente esgotado, e em acelerado processo de destruição de valor.
Se este foi o início deste mês de Dezembro, é de temer pelo fim.