Lições lá de fora*
Ficamos todos muito impressionados com aquele ministro francês que se demitiu do governo de Macron numa entrevista, em directo, surpreendendo tudo e todos. Desde logo o próprio entrevistador, atónito.
Mas também o chefe do governo e o presidente Macron. Que o tinha convidado, percebe-se agora como se teria percebido na altura, para o papel de jarra decorativa. Ou daquela peça que fica sempre bem na parede, na mesa, na estante, ou até num governo…
NIcolas Hulot, o ministro que teve esta ousadia, é um conhecido ambientalista, um dos mais reputados activistas europeus da causa ecológica, jornalista e produtor de televisão. Uma daquelas personalidades mediáticas, com prestígio em nichos de modernidade normalmente descurados pelo poder, frequentemente até franjas activas de contra-poder.
Aceitou o convite de Macron, provavelmente convencido que o jovem acabado de eleger presidente francês era a pedrada no charco que decididamente agitaria as águas poluídas da política francesa. Se não de deixou seduzir pelo poder, pelo menos deixou-se seduzir por Macron.
Depois de mais de um ano à espera de dar tempo ao tempo, percebeu que não passava de figura decorativa, e que as convicções ambientalistas de Macron e do seu governo se ficavam pelo discurso. Bateu com a porta e disse basta! Com todas as letras de uma frase que tem tudo para ficar histórica: “Não quero continuar a mentir a mim próprio”!
Pode não ficar na História, mas fica a lição. Uma lição que vem lá de fora, mesmo que não sirva de nada cá dentro…
* A minha crónica de hoje na Cister FM