Liderança isolada, mas muita coisa decepcionante!
Em circunstâncias como as do jogo de hoje na Luz, diz-se muitas vezes que a equipa deu uma parte do jogo de avanço ao adversário. Foi mais que isso o que o Benfica (não) fez na primeira parte. Não a deu de avanço, limitou-se a ser uma enorme decepção!
O treinador do Benfica falara (demais) sobre a possibilidade de, depois do sucesso no play-off de apuramento para a Champions, a equipa relaxar. Com o jeito que tem para tratar destas coisas pareceu mais um convite a esse relaxamento que propriamente uma acção preventiva para esse problema. É que essas coisas tratam-se no trabalho com a equipa, não é nas conferências de imprensa.
A primeira parte foi isso, e nem a perspectiva da liderança isolada do campeonato serviu de motivação para a equipa que entrou em campo. As seis ou sete alterações na equipa relativamente ao jogo com o PSV deveriam ter promovido uma dose de ambição aos jogadores que entraram, na perspectiva de afirmarem o seu valor e, assim, ultrapassar não só os problemas de fadiga que naturalmente o jogo de Eindoven provocou, mas também os do tal relaxamento. Mas nada disso. E foi uma equipa apática, sem rasgo, e sem ambição, com jogadores não fizeram por merecer vestir aquela camisola.
E muitos não merecem mesmo. Uns porque não têm claramente categoria para jogar no Benfica - Meité é, decididamente , uma contratação que não se entende, como não se entende a de Gil Dias, que não jogou mas também não precisava, nem a de Rodrigo Pinho, que entrou no melhor período do Benfica, e nem assim mostrou argumentos que a justifiquem. Outros, como Pizzi e André Almeida, que já deram o que tinham a dar. Ou talvez o que queriam dar.
O Tondela fez apenas um remate na primeira parte. O suficiente para marcar, e sair na frente. Um golo muito consentido, no eterno problema do espaço entre o central e o lateral, na esquerda, como é realmente mais frequente, em que o próprio Vlachodimos - sempre muito apoiado pelo público, o que quererá dizer muita coisa na patética polémica criada por Jorge Jesus - também não terá feito tudo o que poderia. Ou deveria.
Mas foi sempre claramente mais equipa, o que também não era difícil com aquela prestação dos jogadores do Benfica.
Ao intervalo Jorge Jesus tirou precisamente aqueles três jogadores acima referidos, trocando-os por Gilberto, Wiegl e Rafa. E de imediato a equipa surgiu transformada, colocando em jogo mais velocidade e mais intensidade. E as ocasiões de golo que na primeira parte se não tinham visto começaram a surgir.
Só que o jogo já estava complicado. E bastaria que o guarda-redes do Tondela começasse a engatar, que os seus colegas começassem a a usar das artimanhas para quebrar o ritmo do jogo e queimar tempo, e que o árbitro -Tiago Martins, um especialista na arte de complicar as coisas ao Benfica, e com mais um penalti (sobre Rafa, aos 56 minutos) por assinalar - entrasse no seu registo provocador habitual para que se tornasse muito difícil dar a volta ao jogo.
Tudo isto aconteceu, e complicou mais um jogo complicado por aquela primeira parte. Mas também aconteceu que o Benfica não conseguiu manter o ritmo, a intensidade e a qualidade do primeiro quarto de hora. Valeu o apoio do público a empurrar a equipa para a reviravolta. Porque, na verdade, os golos da reviravolta já nem surgiram envolvidos em jogadas de futebol envolvente. O do empate, aos 71 minutos, por Rafa, surgiu num canto cobrado por João Mário, depois de um desvio de Weigl ao primeiro poste. E o da vitória, de novo a partir de João Mário, já aos 88 minutos, por Gilberto já resultou muito do esgotamento da defesa do Tondela.
Salvou-se a vitória, e a liderança isolada do campeonato. E em termos exibicionais salvaram-se João Mário - o melhor em campo - e Rafa. Mesmo que Gilberto, e Weigl, tenham sido determinantes. E nada mais!