Mais decepcionante que o jogo só o público dos Barreiros
Mais um jogo decepcionante do Benfica, este da antepenúltima jornada do campeonato, nos Barreiros, contra o Marítimo.
Nelson Veríssimo, já com despedida confirmada, promoveu muitas alterações na equipa. De fora ficaram os laterais Gilberto e Grimaldo, à beira do quinto amarelo, e por isso poupado para o jogo com o Porto; Diogo Gonçalves, suspenso por acumulação de amarelos, Taarabt e Gonçalo Ramos. O miúdo Sandro Cruz estreou-se na equipa principal, a lateral esquerdo. Não foi brilhante na estreia, mas ninguém o foi. Gil Dias repetiu a titularidade, desta vez na ala direita, onde pareceu mais adaptado. Começou bem, mas depressa desmentiu quem tivesse chagado a pensar que ... desta é que iria ser. João Mário regressou à titularidade, e foi mais do mesmo - sabe jogar à bola, mas não traz nada para o jogo. Tal como André Almeida, também regressado à titularidade, mas apenas a justificar a despedida.
Mas, no meio de tanta decepção, a maior chama-se Paulo Bernardo. Há um mês, mais coisa menos coisa, os jornais anunciavam que iria ser aposta total até ao fim da época. É verdade que a jovem promessa não tinha conseguido afirmar-se nas oportunidades que se lhe tinham deparado, mas tem um potencial de qualidade que justificaria uma aposta continuada. Liberto da ansiedade da "prestação de provas", o jogador ganharia tranquilidade para afirmar a sua qualidade. Fosse isso para se mostrar ao mercado, fosse para se consolidar na equipa.
Ainda não resultou. Quando falta inspiração a toda a equipa, não sobra nada para Paulo Bernardo. E só pode voltar a desiludir.
E no entanto o jogo teve tudo para se tornar confortável para os jogadores do Benfica, e para lhes permitir exibirem-se sem grandes constrangimentos. O golo surgiu logo ao expirar do primeiro minuto, e não deu sequer para o Marítimo entrar por outro caminho que não fosse o de discutir o jogo no campo todo. O Benfica tem sempre grandes dificuldades quando encontra um autocarro à frente da baliza. Nunca pareceu que o adversário tivesse tido essa ideia, mas aquele golo logo a abrir também lha permitiria. O Benfica parecia ir tomar conta do jogo, mas aos poucos ia deixando cair essa ideia.
Depois, para ajudar ao contexto, o Marítimo ficou reduzido a 10 jogadores, perto do fim da primeira parte, com a expulsão de Cláudio Wink - que até estava a ser o jogador de melhor rendimento da equipa - por entrada violenta, e muito perigosa, sobre o estreante Sandro Cruz.
Mas nem nesse contexto, ainda mais favorável, os jogadores encontraram condições para dominar completamente os acontecimentos e deixar fluir a inspiração. Nunca, em 55 minutos jogados com mais um jogador, a equipa soube lidar com essa superioridade no campo. Arrisco a dizer que, neste campeonato, nenhuma outra equipa a jogar tanto tempo em inferioridade numérica dividiu tanto o jogo como hoje fez o Marítimo. É certo que não criou oportunidades para marcar, mas também é verdade que, a dois minutos do fim dos cinco de compensação, foi Vlachodimos, com a defesa do jogo a um remate de Alipour que sofreu um desvio num defesa do Benfica, que evitou o empate.
À parte o resultado, o melhor que o jogo teve foi a estreia de outro miúdo, Tiago Gouveia. Entrou para o lugar de João Mário, então já a jogar na ala direita, depois da saída de Gil Dias, e foi também o melhor que por lá passou.
Quando todos já só queremos queremos que isto acabe depressa, depois da conquista da Youth League no início da semana, é bom ver estes miúdos a chegar. Mau - mau de mais - foi o comportamento dos adeptos do Marítimo com o Sandro Cruz. Vaiaram-no cruel incessantemente durante todo o tempo depois da expulsão do jogador do Marítimo. Onde foi apenas vítima. Nunca culpado. Fazer isso a um jovem que se estreia na equipa, exactamente o mesmo jovem que passou pelo que passou há duas semanas em Vila do Conde, é desumano. Ignóbil, e mais um flagrante exemplo da falta de decência no nosso futebol, e da inexistente cultura desportiva no nosso país.
Mais decepcionante que o jogo. Muito mais!