Mais outra dívida impagável*
Volto ao tema da semana passada, porque não perdeu actualidade. Pelo contrário, ganhou ainda mais, com o Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais à data dos acontecimentos a dizer, no Parlamento, tudo e o seu contrário, e a meter os pés pelas mãos. Depois de ter começado por dizer que a publicação das estatísticas das transferências para as offshores era da responsabilidade da Autoridade Tributária, e não dele, Paulo Núncio, Secretário de Estado, acabou a referir que tomou a decisão de não as publicar para, nas suas próprias palavras, "não beneficiar o infractor". Trapalhada mais trapalhona não há!
Esta é de resto uma trapalhada com muito de pescada: antes de o ser já o era.
Quando foi chamado por Paulo Portas para o governo de Passos Coelho, Paulo Núncio ganhava a vida a tratar da vida das offshores. Quando saiu do governo regressou, naturalmente, ao seu modo de vida. Pelo meio, no governo, dificultou-lhes a vida, deixando de publicar a informação dos montantes que levavam do país, e deixando fechados numa gaveta durante anos – tantos quantos durou a sua missão no governo – sem resposta, os pedidos de despacho dos serviços da Autoridade Tributária para a respectiva publicação. Porque, veja-se bem, publicá-las seria ajudar os fraudulentos…
Se a isto juntarmos a famosa lista VIP, que o senhor também começou por desmentir, criada para que gente importante, e certamente de bem, não fosse sequer incomodada com uma consulta ao seu cadastro fiscal, percebemos a verdadeira dimensão de quanto o país deve ao Senhor Núncio, como a Senhora Cristas anunciou.
Impagável. A dívida e a Senhora Cristas!
* Crónica de hoje, na Rádio Cister