Manhas, circunstâncias e o resto
Com uma arbitragem manhosa, e contra um adversário manhoso, em que cada jogador tem a sua manha, a disputa desta Supertaça não era tarefa fácil para este Benfica.
Aos manhosos que já tinha, o Porto acrescentou este ano um manhoso especialista na manha penaltis. São uns atrás dos outros, já nem têm conta. As arbitragens manhosas fazem o resto. Na realidade nem é preciso que o Taremi aprofunde muitos os seus talentos na arte de enganar os árbitros. Eles gostam. Hoje nem precisou de procurar no baú a mais requintada das suas habilidades. Se já foram marcados penaltis por Marega chutar contra as pernas do adversário, porque é que não haveria de de ser marcado por atirar a perna para cima do guarda-redes?
Nas leis do jogo, penalti é quando o guarda-redes se atira para cima do adversário. Nas leis da manha basta que o avançado se atire para cima do guarda-redes. Nos foras de jogo também não há nada que a manha não resolva. Arranjam-se sempre as linhas manhosas.
Foi isto a primeira parte. Pouco futebol e muita manha. Daí um manhoso 1-0 ao intervalo, a condicionar decisivamente o resto do jogo.
A segunda parte teve menos manha e mais jogo. A começar logo no arranque pela falta de manha de Darwin, que surgiu isolado frente a Marchesin e saltou por cima do guarda redes, e da perna que ele levantou bem alto, para evitar o contacto. Manha que já não faltou ao Corona - o tal que, por falar em manhas, estava em dúvida para o jogo, como o Octávio - quando despachou a bola a toda a pressa depois de a ter ajeitado com o braço dentro da área, na sequência da cobrança do livre de Grimaldo que levou a bola aos ferros. Nem ao árbitro Hugo Miguel, que não viu. Nem tinha visto que a falta de Sérgio Oliveira, de que resultou esse livre, teria que ter dado o segundo amarelo.
Depois das manhas, uma espécie de ambiente geral, há as circunstâncias próprias do jogo. O lance do penalti manhoso sucedeu a uma transição rápida do Rafa que, em vez de escolher entre por pelo menos duas opções de passe que tinha, optou por seguir sozinho com a bola até a perder, à entrada da área portista. E o lance do segundo golo, já no fim do jogo, resultou de mais um passe falhado de Taarabt, com a equipa toda lançada para o ataque, à procura do empate.
Depois do ambiente, e das circunstâncias, há o que resta do jogo. O que foi jogado. E aí viu-se sempre um Porto mais forte, mais trabalhado, a jogar mais e muito mais competitivo. E viu-se um Benfica que nem aquele seu futebolzinho foi capaz de ensaiar. Que nunca conseguiu fazer três passes seguidos, e que se limitou a chutar a bola para a frente, à espera que o Darwin a agarrasse. Que em todo o jogo construiu e finalizou uma única jogada, concluída pelo Grimaldo, com uma grande defesa de Marchesin, logo a seguir ao penalti do golo de Porto. E que, para além dessa oportunidade de golo, apenas criou perigo nos dois livres do lateral esquerdo espanhol, o tal da bola nos ferros e, antes, no outro bem defendido pelo guarda redes portista.
Muito pouco. Tão pouco quanto é o pouco que vai valendo este Benfica de Jorge Jesus e Vieira.
O Porto fez muito mais? Não. Mas nem precisou para ganhar claramente o jogo, arrecadar mais um troféu, e ferir o Benfica mais uma vez. Vamos ver com consequências para o resto da época, e para os próximos confrontos. Pela experiência, não serão difíceis de adivinhar!