Marcelo a ser Marcelo e António Costa a ser António Costa
Temos finalmente governo, o XXIII da Constituição, em funções. Foi ao fim da tarde de ontem empossado, no Palácio da Ajuda.
Depois de longo desfile de personalidades a rabiscar a assinatura de comprometimento solene com a sua honra de cumprirem com lealdade as funções confiadas, o presidente Marcelo iniciou o seu discurso com uma prolongada viagem pela guerra em curso na Ucrânia. Parecia um discurso na ONU, mas não. Era só o caminho cheio de curvas para o ponto de chegada: que António Costa nem pensasse, em nenhuma altura do percurso governativo, sair da estrada e tomar o rumo para Bruxelas, deixando o volante da governação na mão de um dos seus delfins.
Aquele volante é dele, e só dele. Se o entregar a alguém, toda a gente salta fora da carroça. Ficou dito e, dito isso, pouco importa o que mais disse. Até porque não havia mais nada de novo para dizer. Que quer reformas, e que não gosta muito desta maioria absoluta, que gostava mais de outra, não é novidade para ninguém. Que gostou que nada tivesse ficado na mesma, mas só porque isso lhe legitimou a decisão de dissolver o Parlamento, em Outubro passado, também não.
No resto, foi Marcelo a ser Marcelo. Incluindo o desprezo no cumprimento a João Gomes Cravinho, o novo Ministro dos Negócios Estrangeiro, sem sequer o olhar. E António Costa a ser António Costa, a pintar de cor de rosa um país pintado de cor de rosa, pouco incomodado por Marcelo ser Marcelo.