Matar o futuro
As escutas telefónicas entre Dilma e Lula, hoje reveladas, são o golpe final na sua credibilidade política, o golpe final no regime e, muito provavelmente, o golpe final na democracia no Brasil, que não irá conseguir resistir à mistura explosiva de uma crise económica sem precedentes com a maior crise institucional e de representação dos últimos 70 ou 80 anos.
Nunca o Brasil enfrentou um quadro político e económico de dimensão tão catastrófica. Nunca o Brasil sonhara tão alto, para depois cair tão fundo, numa real tão dramática. Lula tirou o Brasil da miséria e acrescentou-lhe futuro, o futuro que parecia estar ali à mão mas que sempre fugia, cada vez mais inalcansável. Prometido, mas também sempre adiado. E agora negado...
Admitíamos que em dez anos Lula tivesse mudado o Brasil. Percebemos hoje que dez anos não chegaram para mudar o Brasil, mas que chegaram para mudar Lula. E é esse hoje o drama do Brasil, um país que não muda, mas que muda quem o quer mudar. Que mata a mudança pela raiz, para que a velha agenda nunca desapareça, e esteja sempre pronta a regressar às primeira filas...