Medos*
Começa a ficar consensual que entramos na temida segunda vaga da epidemia. Os números, de infecções e de óbitos, mesmo que mais os primeiros, voltaram a disparar e confirmam que o que se está a passar já é diferente do que aconteceu entre o primeiro e o segundo trimestre do ano.
Em Espanha, em França, na Itália, no Reino Unido, na Alemanha ou em Portugal, com maior gravidade, como em Espanha, ou menor, como na Alemanha, o vírus não dá tréguas. É justamente um virologista alemão, cientista de referência e assessor do governo para a covid-19, que adverte que a verdadeira pandemia está agora a chegar.
A isto acresce a chegada da gripe sazonal, aí à porta por força do calendário. Mas acresce sobretudo a realidade nas suas múltiplas dimensões. Não é mais possível responder com a resposta dada há seis meses. Não é económica nem socialmente possível voltar ao confinamento de então. As economias não o suportam. E as pessoas já nem sequer suportam medidas restritivas, como se vê por estes dias em Espanha e em França. Pelo contrário, reclamam mais abertura, Nem é garantido que dispúnhamos de melhores condições de saúde, como em Portugal garantem as entidades oficiais. Antes pelo contrário, provavelmente.
É certo que há hoje maior conhecimento do vírus, e mais algumas certezas médicas. Mas a resposta dos profissionais de saúde, que por todas as latitudes emocionou o mundo, não é uma experiência repetível. E em Portugal, por múltiplas e diversas razões, que vão dos bloqueios nas estruturas organizacionais dos serviços de saúde, à falta de reconhecimento dos profissionais, não o é. De todo!
Quando os registos da epidemia já contam com um milhão de mortos e 32 milhões de infectados, é verdadeiramente dramático nestas condições admitir que a verdadeira pandemia possa estar agora a chegar.
Há uma boa notícia no meio de tudo isto. Nas eleições locais e regionais em Itália, no início da semana, a extrema-direita xenófoba sofreu um forte revés. Dizem os estudiosos da matéria porque, justamente, as pessoas perceberam que é aqui que está a razão para ter medo. E que o que os extremistas agitam são falsos medos com que querem apenas espalhar o ódio.
* A minha crónica de hoje na Cister FM