Mil dias de guerra, o Pedro e o lobo
Contam-se hoje mil dias de guerra na Ucrânia, a partir daquela madrugada de quinta-feira, 24 de Fevereiro de 2002, em que a Rússia deu início à invasão do território ucraniano. Era, para Putin, coisa para arrumar no fim-de-semana. Para a maioria dos analistas ocidentais, em quatro dias as tropas russas estariam em kiev.
Já somam mil!
Não terá sido - imagino eu - para assinalar esta contagem redonda que Joe Biden deu luz verde à Ucrânia para utilizar armas americanas de longo alcance, capazes de atingir território russo. Se os mil dias não eram a oportunidade, tudo indica que os 60 que lhe restam de presidência menos a seriam.
Putin respondeu com um documento que, alterando a doutrina do uso de armas nucleares, define que (i) um ataque com armamento convencional, se apoiado por potência nuclear, pode justificar o uso de armas nucleares pela Rússia; e (ii) que qualquer agressão contra a Rússia por um país membro de uma coligação será considerada agressão de toda a coligação. Isto é, Putin voltou a ameaçar com o uso do nuclear, e começa a parecer Pedro na sua história do lobo.
Não se faz ideia se Biden acertou alguma coisa com Trump. Não parece, mas nunca se sabe... Sabe-se que com a União Europeia, não. Porque aí ninguém se entende. Só a França admite poder vir a seguir essa ideia. Alemanha e Itália recusam-na liminarmente, e aos outros nem a questão se põe: simplesmente não possuem armas dessas. Que a UE - Josep Borrell - diga que concorda com a utilização de mísseis de longo alcance por parte de Kiev é apenas uma opinião. Que não vale nada!
Mil dias é muito tempo. Em guerra, é ainda mais. E no entanto ainda ninguém fala de paz. O problema é mesmo a história do Pedro e do lobo. Se continuarem a deixar passar muitos mais dias, haverá um em que o lobo vem mesmo!