Moeda de troca
As últimas semanas foram deixando a ideia que a autorização da realização da festa do Avante seria qualquer coisa que entrava nas contas da constituição da geringonça 2.0.
Não é uma ideia simpática, tanto mais que remete as instituições do Estado de Direito para simples agentes da táctica política do governo. Mas é a que foi ganhando cada vez mais forma nos últimos dias.
Com a aproximação da data do evento - já no final desta semana - e à medida que sua realização se tornava cada vez mais irreversível, mais ruidoso era o silêncio da Direcção Geral de Saúde (DGS). De tal forma que o Presidente da República, ainda para mais aborrecido com as encenações de crise política do primeiro-ministro e com as alterações de paradigma de António Costa, teve que dizer que bastava, e que era mais do que tempo de a DGS tornar públicas as condições de autorização da Festa.
Pressionada, a DGS informou que já tinha entregado ao PCP as condições aprovadas para a realização da Festa. Mas que não as divulgava. Que fosse o organizador a fazê-lo.
Não há qualquer dúvida que a DGS não quis transparência em todo este processo. Ou não quis ou não pôde ser transparente. O governo, com o sound byte da ministra da saúde, logo no início, que "nada seria permitido que estivesse proibido, nem nada que fosse permitido seria proibido", tratara já de fazer descer a cortina.
Se nada disto tivesse a ver com as contas para a nova geringonça que agora, ao contrário de há apenas dez meses atrás, António Costa tem por imprescindível à estabilidade governativa, é que seria estranho.