Montanha russa
Que jogo esquisito, este do Benfica esta noite na Luz, com o Santa Clara, nesta montanha russa - com mais descidas vertiginosas que propriamente subidas - que são as suas exibições nesta época. Não é que seja esquisito que a equipa não tenha dado continuidade à boa segunda parte de Portimão, porque - lá está - regularidade é coisa que o Benfica não sabe bem o que é. O jogo é que foi mesmo esquisito.
O Santa Clara é um adversário complicado, não complicou só a vida ao Benfica. Já o tinha feito em Alvalade e no Dragão, donde acabou por sair com o mesmo resultado de hoje, e porventura até de forma mais injusta que hoje. Mas isso não explica tudo, e menos explica que o jogo tenha sido tão esquisito.
Na primeira parte o Benfica não jogou bem, longe disso. Mas também não jogou tão mal como já o tem feito, pelo menos ao nível do passe. É certo que o futebol da equipa não teve velocidade, nem intensidade. Mas também não foi exactamente aquela pasmaceira de muitos outros jogos. Foi assim uma coisa que nem é carne nem peixe.
Mais que uma má exibição, foi uma exibição incompetente. Especialmente tacticamente incompetente.
Nunca teve o jogo controlado, mas também nunca se viu seriamente ameaçado pelo adversário. Criou duas ou três oportunidades para marcar, mas nem sequer rematou. E acabou por chegar ao golo, aos 25 minutos, quando o Santa Clara estava por cima do jogo, na única vez que conseguiu chegar à linha de fundo - a pecha maior deste futebol de Jorge Jesus, como venho repetindo - num cruzamento tenso, como mandam as regras, de Everton, na única coisa de jeito que fez enquanto esteve em campo, concluída pelo melhor marcador … da equipa açoriana.
Foi um golo à ponta de lança, num cabeceamento de grande execução, como se a baliza fosse outra. Uma rotina de ponta de lança numa acção defensiva. Mais esquisito não há!
Logo a seguir Seferovic - também ele com a sua montanha russa - não fez de ponta de lance, como tantas vezes lhe acontece. E falhou o 2-0 sozinho à frente da baliza, depois de servido de bandeja pelo Diogo Gonçalves, de novo o mais inconformado
Sempre à espera da fase de subida da montanha russa, esperava-se que a segunda parte fosse diferente. Que, em vantagem no marcador, com a lição da primeira parte estudada, com um adversário a jogar aberto e no campo todo, repetisse a segunda parte de Portimão.
Mas, não. O Benfica piorou ainda. E o primeiro quarto de hora foi pouco menos que um pesadelo. O Santa Clara chegou naturalmente ao empate, e só se não pode dizer que esteve sempre por cima do jogo porque,, de quando em vez, o Benfica engatava uma jogada, e criava sempre mais perigo que o adversário a atacar e a rematar mais.
Esquisito. Tão esquisito que chegou ao golo da vitória - por Chiquinho, que entrara, com Darwin, logo a seguir ao golo do empate, com mais uma assistência do Diogo Gonçalves, a culminar a melhor jogada do desafio - no primeiro remate de todo o jogo enquadrado com a baliza.
Esquisito que o guarda-redes do Santa Clara tenha feito uma única defesa. E Helton Leite umas sete ou oito. E que os açorianos tenham rematado o dobro do Benfica. E que mesmo assim Seferovic tenha voltado a falhar mais dois golos feitos. E Darwin mais outro.
Já só não é esquisita a regularidade desta irregularidade da equipa. Nunca se sabe com o que se pode contar. O melhor é contarmos com exibições destas. E depois, se sair alguma coisa de jeito, deixarmo-nos entusiasmar e pensarmos mais uma vez que agora é que é.. E entramos também na montanha russa!