Nada de novo. E pouco que interesse...
Por Eduardo Louro
Não gostei da entrevista do primeiro-ministro e, francamente, não gostei do entrevistador. Não trouxe nada de novo, e creio que o João Adelino Faria ficou muito aquém do que, no momento actual, se exigia. Talvez por a entrevista ter sido agendada – e pensada – antes dos últimos acontecimentos…
Não me interessa muito que o primeiro-ministro tenha confirmado a participação do governo na resolução do BES, desmentindo a ministra das finanças. Nem que recupere o tema do enriquecimento ilícito, o que acho muito bem. Mas acharia ainda melhor que a maioria aproveitasse para, desta vez, tratar seriamente do assunto evitando introduzir-lhe, propositadamente ou não, inconstitucionalidades e impraticabilidades.
Também não me interessa muito que tenha enviado o recado para a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) ao BES. A conclusão que pediu à CPI já estava encomendada, já se sabia que não havia qualquer falha de supervisão do Banco de Portugal. E que a resolução era a única solução possível, na linha do guião da inevitabilidade que o governo apregoa.
Mas já me interessa, e preocupa, que Passos Coelho, na sua velha retórica de colocar o público contra o privado, ache que a corrupção é própria e exclusiva do que é público. E que por isso não há corrupção no que aconteceu no BPN, no BPP ou no BES… E por isso criar a confusão entre intervenção do Estado e a corrupção. E achar que evitar a destruição da PT seria criar condições para a corrupção… Coisa com que a política dos vistos gold não tem nada a ver...
Não me interessa, nem me preocupa, que Passos Coelho ache que o país lhe deve gratidão, e que não pode ser ingrato nas próximas eleições. Mas já me interessa e preocupa que queira que os portugueses julguem que tudo está resolvido, quando continuam sem emprego, sem os salários e as pensões que lhe tiraram, sem património que lhes valha, e afogados em impostos e em dívidas. Sem que isso tenha resolvido coisa nenhuma…