Não dar ponto sem nó...
Por Eduardo Louro
Quando Cavaco, mais de três semanas depois de se conhecerem os resultados eleitorais, começa finalmente a dar os primeiros passos do protocolo para a indigitação do primeiro-ministro, coisa que depois de tudo protocolado deverá dar governo lá para o Natal, sabe bem lembrar que já dá para contar os dias que lhe restam em Belém.
Só por isso dá vontade de virar a agulha para as eleições presidenciais que aí vêm. Dizem os comentadores encartados que a pulverização de candidaturas presidenciais à esquerda facilita a eleição de Marcelo Rebelo de Sousa logo à primeira volta. Não há nada que suporte esta tese, que não resiste aos primeiros testes de validação.
Como é facilmente demonstrável, e sem necessidade de recorrer ao velho axioma que a maioria do eleitorado é de esquerda, Marcelo, sendo quem é, e depois de preparar e conduzir a candidatura como fez, não estará neste momento muito longe daquilo que será seu potencial de votos. A sua margem de crescimento é naturalmente já bastante limitada.
Os votos que tem já por garantidos serão, ou não, suficientes para lhe garantir a preferência de mais de 50% dos eleitores que forem votar. E isto é independente do que são e de quem são os adversários. Mais ou menos candidaturas à esquerda, para esse resultado, não aquece nem arrefece. O que aquece ou arrefece, o que é determinante, o que pode ser a variável crítica dessa equação é a abstenção.
Evidentemente que quanto maior for a abstenção maior será a expressão relativa daqueles votos. Mais fácil será transformá-los numa expressão maioritária. A matemática não engana… Ninguém terá grandes dúvidas que a abstenção tende a variar na razão inversa do número de candidaturas. Quanto maior for o campo da oferta, quanto maior for o apelo, menos razões haverá para que as pessoas se abstenham.
Ora aqui que está o que será, mais que a resposta chave, a resposta dupla. Enquanto demonstra que a ideia é falsa, explica por que é que a querem fazer passar por certa!
Outra coisa é dizer que a proliferação de candidaturas à esquerda pode facilitar a vitória de Marcelo, sim, mas na segunda volta. Mas essa, como não serve os mesmos interesses, não faz caminho.
Não custa muito a perceber que se, em especial as candidaturas do Bloco e do PCP, fossem até às urnas, a candidatura promovida pela direita – não é a de Marcelo, é a que já transporta Belém no nome – com o apoio que tem no aparelho do PS, teria boas possibilidades de ser a segunda mais votada numa primeira volta. Circunstância – provavelmente única – que, na eventual segunda volta, asseguraria a eleição de Marcelo.
É o que se chama não dar ponto sem nó...