Não há pressa - a goleada pode esperar!
O Benfica entrou com pressa, hoje na Luz. Se é para sofrer golos - a equipa sofre sempre golos, seja a jogar com o último, com o penúltimo, seja com quem for - vamos lá tratar disso. Não há tempo a perder!
Foi assim que começou o jogo com a B SAD, directo ao assunto, sem perdas de tempo. E como é matéria que está bem treinada, é fácil, rápido e eficaz. Taarabt perde a bola, o resto é com a defesa. E, logo aos minutos, assim foi. O Afonso, a terceira geração dos Sousa, ganhou a bola ao marroquino e correu com ela pelo meio campo do Benfica. Entregou-a ao Rafael Camacho, na esquerda, para este dar um nó cego ao mesmo Taarabt - que correra atrás do prejuízo para o sítio onde não estava André Almeida - e continuou a correr, sem ninguém o incomodar, até receber de volta, sozinho, dentro da área, e bem na frente de Vlachodimos, a bola devolvida pela antiga promessa sportinguista e a meter na baliza.
Assunto arrumado. Com a consciência do dever cumprido, a equipa podia agora entregar-se de corpo e alma à espinhosa missão de ganhar ao último classificado. Com seis alterações em relação ao último jogo, e com mexidas em todos os sectores (na defesa apenas repetiu Otamendi, no meio campo apenas Taarabt, e na frente só Darwin e Everton sobraram), começou por não ser fácil: muita bola, mas também muita tremideira. Empurrava o adversário lá para trás, chegava a asfixiá-lo, mas nada de golpe fatal. Deixava-lhe sempre fôlego para ameaçar. Os remates, quando surgiam, eram pouco menos que desastrados.
Mas as coisas lá se foram compondo, e a meio da primeira parte Taarabt redimiu-se: recuperou uma bola e, depois de primeiro ter tentado o remate, à segunda correspondeu com um belíssimo passe à belíssima desmarcação de Darwin, que concluiu com os também belíssimos recepção e remate. E, mesmo sem jogar um futebol de sonho, os remates e as oportunidades começaram a surgir.
No arranque da segunda parte o ritmo dos remates (26 no total do jogo, um novo recorde na liga) e das oportunidades de golo cresceu ainda mais. Antes dos 10 minutos, com nova assisstência de Taarabt, Darwuin marcou o segundo e, quatro minutos depois, a passe de João Mário, o terceiro - o hat-trick. O guarda-redes do Belenenses, o poste, alguma falta de sorte e bastante aselhice iam evitando a goleada. Que, com meia hora para jogar, parecia inevitável.
Mas não foi. Entrou-se no período de substituições, e com as saídas de Taarabt, primeiro, e Darwin depois, para entrar Yaremchuck, nem admirou que ainda não fosse desta que o Benfica regressaria às goleadas. E, com as intermitências habituais da equipa, tudo até se poderia ter complicado em mais duas perdas de bola comprometedoras (não, não é só Taarabt) que, naqueles dias em que tudo corre mesmo mal, poderiam ter dado novos golos ao mesmo Afonso.
As intermitências e a falta de eficácia do costume, e a incapacidade para manter o adversário dominado e controlar efectivamente o jogo, são a nota negativa de uma exibição que, não sendo brilhante, acabou por ser aceitável e justificar muito mais golos. E se lhe dermos o desconto de André Almeida já não poder discutir o lugar com Gilberto, de Diogo Gonçalves não ser Rafa, de Valentino Lázaro não ter nada a ver com Grimaldo, e de Meité não ter nada a ver com nada, ainda mais terá de ser valorizada.
PS: Os meus afazeres são por regra submetidos à lei suprema "do hoje joga Benfica". Hoje violei a lei. Não fui à Luz, nem vi o jogo em directo na televisão. À hora do jogo estava em viagem, e fi-la ouvindo o relato na Antena 1. Quando cheguei a casa fui ver o jogo, e nem fiquei espantado por não ver nada do que ouvira relatar, porque já sabia que os relatos de futebol na rádio são hoje um produto, um "conteúdo" que e serve para tudo menos para transmitir o jogo. O meu espanto foi não ter visto nada do que o comentador do jogo viu. Disse esse comentador - não fixei o nome, mas é certamente um "especialista" - por exemplo, que o Benfica não foi Darwin mais dez. Foi Darwin mais zero!