Não havia necessidade...
No final do ano, no preciso espaço de uma semana, dois jovens, um cabo-verdeano e outro português, foram assassinados na rua.
O português, de 24 anos, a 28 de Dezembro, no Campo Grande, em Lisboa, por um grupo de três jovens guineenses, com idades entre os 16 e os 20 anos, apunhalado nas costas depois de ter reagido ao assalto que esteve na origem do crime. Perdeu a vida no local e foi logo notícia nos jornais e televisões.
O cabo-verdeano, de 21 anos, a 21 de Dezembro, em Bragança, brutalmente agredido na cabeça à saída de um local de diversão nocturna, numa rixa em que, com mais dois amigos e compatriotas, se viu envolvido com um grupo de portugueses. No alarme dado aos bombeiros o jovem caído inanimado no chão foi referenciado como profundamente embriagado. Estava sim às portas da morte, já tapadas para a saída. Morreu a 31 de Dezembro, e foi então notícia nos jornais e nas televisões.
As duas lamentáveis ocorrências, bem como os crimes praticados, não têm qualquer relação entre si. As circunstâncias em que ocorreram são tão distintas como a geografia em que aconteceram. Em Lisboa, aconteceu um assalto numa zona em que acontecem todas as noites. Ao que se sabe, o jovem assaltado era praticante de karaté, e isso não deve ter ajudado nada... Em Bragança, os contornos do crime não estão ainda bem definidos, mas o que se conhece aponta para a futilidade de um simples encosto numa rapariga provocado por uma escorregadela na fila para a caixa, com uma "espera" na saída.
O que não impediu que rapidamente os activistas do costume corressem a rotular o crime de Bragança de racismo, em mais um "tiro no pé", ajudado também pelas autoridades de Cabo Verde que, esquecendo-se que o crime de Bragança só se tornou crime, e depois notícia, com a morte do jovem, a 31 de Dezembro, vieram apresentar críticas ao tratamento mediático do tema, em evidente contraponto com a relevância informativa dada ao crime do Campo Grande.
A luta contra o racismo não é isto. Este tipo de reacções apenas contribuem para extremar posições, tornar mais difícil o combate ao preconceito, e engrossar as correntes xenófobas e racistas. Que - já se está a ver - ficam com mais uma "pérola" para usar: "há racismo quando brancos matam um preto, mas já não há quando são pretos a matar um branco".
Não havia necessidade...