Não precisar deles
A acusação a Ricardo Salgado - de de mais dezassete outras pessoas singulares e e sete pessoas colectivas - chegou seis anos depois do colapso do BES. Vai ser julgado por sessenta e cinco crimes, entre eles os de associação criminosa e corrupção activa, que terão causado perdas de 12 mil milhões de euros.
No epicentro da acusação está uma offshore criada nas Ilhas Virgens Britânicas para titular uma conta bancária na Suíça, um gigantesco saco azul de onde saiam as largas centenas de milhões de euros com que Ricardo Salgado comprava o que havia a comprar.
Sabe-se o que comprou, até ficar dono disto tudo.
Dei conta de duas, apenas duas, reacções políticas à acusação de Ricardo Salgado. Uma foi de Rui Rio, que não teve mais nada a dizer se não que demorou muito tempo. Nem se esperava que tivesse outra coisa para dizer... Mas não tem razão. Apurar em seis anos o que resulta da acusação, em matérias desta natureza, é um grande trabalho. E Rui Rio deveria saber isso.
Outra foi do Presidente Marcelo, dando a acusação como uma boa notícia. Marcelo, que era amigo pessoal de Ricardo Salgado e com quem até passava férias...
Uma das coisas que se soube é que esse milionário saco azul serviu também para Ricardo Salgado financiar as campanhas presidenciais de Cavaco Silva. Que, Presidente da República, incentivaria a compra de acções no aumento de capital do BES, a quinze dias da falência do Banco.
Cavaco não se pronuncia, não tem nada a dizer. E enquanto alguma comunicação social reduz a notícia a simples nota de rodapé, outra apressa-se a querer fazer-nos crer que Cavaco não tinha conhecimento de estar a ser financiado por Ricardo Salgado.
Não é preciso nascer duas vezes para ser mais sério do que quem quer que seja. Como bem explicava Marcelo na sua própria campanha para as presidenciais de 2015, basta não precisar deles.
Não precisar deles. Isso mesmo. De outra forma tudo se resume sempre a uma questão de preço...