Notícias da Justiça*
As últimas notícias que nos chegam da Justiça, incluindo a “Operação Lex” que tomou conta do espaço mediático desta semana, dizem-nos que os ricos e poderosos já não lhe escapam pelo simples facto de o serem. Entre eles – não sei se ricos, mas sei que poderosos - os seus próprios agentes, os seus pares. A Polícia prende polícias, e o Ministério Público investiga e acusa governantes e ex-governantes, líderes empresariais e da alta finança, do país e do estrangeiro, altos dirigentes desportivos, magistrados e procuradores…
No caso que domina a semana estão envolvidos, para além um procurador, um oficial de justiça e advogados, dois juízes desembargadores, por acaso com recente relação conjugal. Ela, em vésperas de ser promovida da Relação para o Supremo Tribunal de Justiça e ele, na mesma calha, figura mediática de primeiro plano.
A presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses, Manuela Paupério, entrevistada no DN, defendia a classe, como lhe compete, dizendo com absoluta naturalidade que se trata de casos muito pontuais, que não podem permitir qualquer tipo de generalização, rematando com a afirmação que estava há 30 anos na magistratura e era a primeira vez que via uma coisa destas.
Poderia lá estar há muitos mais anos e afirmar a mesma coisa. Porque a questão é se estas coisas sempre aconteceram, mas só agora é que a Justiça as vê; ou se estas coisas não aconteciam de todo no passado, e se são as actuais personagens do poder que, de tanto o exacerbarem, se expõem agora mais, e às mais variadas tentações.
Não sabemos a resposta. Como também não sabemos por que é que, agora, as câmaras de uma televisão, e os jornalistas de um jornal, chegam sempre primeiro às residências e demais locais de busca, que os agentes e portadores do respectivo mandato judicial.
Evidentemente que precisamos de estar informados sobre os resultados da actuação da Justiça. Mas assistir em directo à execução de um mandato judicial, ou acedermos aos processos pelas televisões e pelas primeiras páginas dos jornais, não é isso. É outra coisa qualquer… Que nem é aceitável, nem nos deve dar maior tranquilidade.
* Da minha crónica de hoje na Cister FM