Notícias manhosas
A detenção, em Lisboa, de dois iraquianos que viviam em Portugal como refugiados desde 2017, suspeitos de terrorismo, é a notícia do dia, não podendo ser mais (in)oportuna, quando na ordem do dia está o acolhimento a afegãos que procuram fugir do inferno que é hoje o Afeganistão. A primeira página do Correio da Manhã, bem na linha do que é a imagem de marca do tabloide, é disso elucidativa.
A possibilidade de serem recebidos terroristas islâmicos disfarçados de refugiados é, evidentemente, muito grande. Até porque infiltrar membros nas colunas de refugiados é uma solução Win-Win para o Daesh, ou ISIS, ou lá o que em cada momento se chame: ganham porque aproveitam uma espécie de boleia com escolta para os transportar; e ganham porque minar a disponibilidade dos países em receber aqueles que deles fogem funciona como factor de dissuasão dos que lá ficam.
Por isso, cabendo aos países do Ocidente assumir as suas responsabilidades - civilizacionais, mas também históricas - e, nesse sentido, tudo dever fazer para receber e integrar refugiados cabe-lhes, especialmente através da articulação do seus serviços de inteligência, criar os filtros que permitam identificar a maior parte das infiltrações. A nós, cidadãos desses países, cabe-nos compreender que, por mais apurados que sejam esses filtros, nunca todos lá ficarão retidos. Que haverá sempre, é inevitável, terroristas a passar por refugiados, e que esse é um preço que temos que aceitar pagar.
E cabe-nos denunciar títulos como o do Correio da Manhã. A notícia terá que ser que a polícia portuguesa identificou dois dos que passaram no filtro. Antes de por cá nos terem causado problemas, e de cá conseguirem sair para os causar a outros. E essa é uma boa notícia!