Números do desemprego
Por Eduardo Louro
Numa campanha eleitoral em que vai valer tudo, governo e coligação querem fazer do desemprego uma questão de números. Reduzindo o maior problema da economia e da sociedade portuguesa a um número, o problema fica resolvido. Um número é um número, e com os números faz-se o que se quiser...
Se há coisa em que os números se pareçam com pessoas - com algumas pessoas - é nisso mesmo: prestam-se a tudo!
Se as pessoas que um dia perderam o emprego e estão sem trabalho há dois, três anos ou quatro anos não são desempregados, são inactivos. Se as pessoas que estão ocupadas uma hora por semana a receber formação que nunca lhes servirá para nada, estão em formação, não são desempregados. Se as pessoas que estão integradas em estágios pagos pelo Estado às empresas, são estagiários e não desempregados. Se as pessoas que tiveram de sair do país são hoje emigrantes e não desempregados, os números do desemprego são forçados a cair.
Os problemas das pessoas, esses, são os mesmos. Às pessoas pouco interessam os números, mais ou menos martelados, e sempre manipulados, do desemprego oficial do governo. O que às pessoas importa é o emprego que lhes falta. Não importa o desemprego, importa é o emprego. Não conta para nada que os números do desemprego tenham caído quando os do emprego cairam ainda muito mais!
O que realmente conta é o emprego que foi destruído nestes últimos quatro anos, que - palavra do FMI - demorará 20 anos a recuperar. Demoraria, direi eu, se a economia portuguesa conseguisse garantir tanto tempo de crescimento ininterrupto, coisa de que nos não lembramos.
E o que nunca deixará de contar é a qualidade do emprego que se está a criar. Muitas vezes, mais que emprego a prazo, emprego com prazo marcado para o desemprego, assente numa relação de trabalho cada vez mais desigual.