O 1º de Maio e a geringonça
A celebração do 1º de Maio pela CGTP, na Alameda, constituiu motivo para uma onda de indignação muito parecida com a de há de uma semana antes, motivada pela sessão evocativa do 25 de Abril na Assembleia da República.
Pese embora alguma diferenciação na qualidade dos argumentos, e sendo outra, apesar de tudo, a realidade de contexto de cada um desses actos públicos, a indignação não foi menos exuberante. Nem os seus protagonistas deixaram de ser os mesmos.
Fátima, e o 13 de Maio, veio de novo a terreiro (deu até para lá deixar uma casca de banana para Ministra da Saúde pisar), e o dedo ficou ainda mais em riste, apontado à geringonça. Nos jornais, nas televisões, nas redes sociais e nas missas... "Não há dúvida que a geringonça manda neste país", disse-se e escreveu-se por estes dias por todo o lado.
Muito do que se disse e escreveu fará certamente sentido. Nem tudo, mas também não seria preciso. O que não faz sentido, e deita por terra até as críticas mais acertadas, é essa tendência primária de culpar a geringonça. As comemorações do 1º de Maio foram expressamente autorizadas pelo Presidente da República no decreto presidencial nº 20-A /2020, de 17 de Abril, que renovou pela segunda e última vez o estado de emergência nos seguintes termos:
"Tendo em consideração que no final do novo período se comemora o Dia do Trabalhador, as limitações ao direito de deslocação deverão ser aplicadas de modo a permitir tal comemoração, embora com os limites de saúde pública previstos no artigo 4.º, alínea e), do presente Decreto".
Que foi aprovado na Assembleia da República com os votos a favor do PS, PSD, BE, PAN e CDS. Sim, viram bem: PSD e CDS.
Que grande geringonça!