Assunto
O Braga disputou esta noite, na Pedreira, com o Rangers, o jogo da primeira mão dos quartos de final da Liga Europa. Ganhou por 1-0, mas não é nem o jogo, nem o resultado, que trago aqui. O assunto é outro.
Estamos no Ramadão, período de jejum para os muçulmanos, durante o qual só podem ingerir alimentos após o pôr do sol. Para os jogadores de futebol, bem como para qualquer praticante de alta competição, a prática deste jejum é algo que, naturalmente, lhes complica seriamente a vida. Mas não apenas a eles, também aos clubes que lhes pagam, e aos treinadores que deles não consigam prescindir.
O Braga tem no plantel um desses jogadores, o líbio AL Musrati - justamente um dos imprescindíveis para Carlos Carvalhal. Como do imprescindível não se pode prescindir, Carvalhal lançou-o no jogo. Que se iniciou às 20 horas, altura em que por estes dias o sol já não brilhará muito, mas ainda lá está, mesmo que já bem baixo, a dar-nos luz.
Corria o jogo há 7 ou 8 minutos quando, timidamente, o sol se começou a esconder lá para trás da linha do horizonte. Do nada, surgiu no chão o guarda-redes Matheus, agarrado à perna direita. O árbitro interrompeu o jogo, como manda a lei, e a equipa médica do Braga mandou-se em esfregões e massagens à perna do jogador, que não escondia um esgar de dor e desconforto.
A realização televisiva ia buscar, em repetição, a última intervenção do guarda-redes. Não se via nada que pudesse ter magoado o guarda-redes bracarense, mas a realização insistia um sugerir às mentes mais criativas uma qualquer relação de causa e efeito entre o ligeiro contacto com um adversário, muito ligeiro e mais leve ainda, e a assistência médica em curso.
No banco do Braga o guarda-redes suplente levantava-se, e movimentava os braços. E as câmaras deslocaram-se da zona da baliza do Braga, onde a equipa médica continuava de volta da perna do Matheus, para o banco, para captar a imagem do guarda-redes suplente, a sugerir a hipótese da necessidade de substituição.
Passaram quatro minutos, afinal o tempo necessário para, sol posto, servir o jantar a AL Musrati. Não terá sido grande repasto, nem à luz da vela. Mas foi tranquilo. E, mais importante, fora da indiscrição das câmaras, com a realização televisiva entretida entre as repetições, a assistência médica e o guarda-redes suplente.
Mais que o insólito, foi a mestria com que o staf do Braga preparou esta operação que fez disto assunto. O assunto!