O "ataque móvel" e outras histórias
Parece que Roger Schemidt já mudou o que tinha a mudar. Hoje, em Chaves, voltou a repetir tudo o que fizera em Arouca, há quatro dias. A mesma equipa inicial, o mesmo sistema - os três centrais, João Neves na ala direita e Aursenes na esquerda, João Mário e Florentino no meio, e o mesmo trio na frente, no tal "ataque móvel" que Di Maria, Guedes e Rafa constituem.
Se era criticado por não encontrar um onze tipo, agora não o poderá ser. Para ele, com os jogadores que há disponíveis, é esta a sua equipa tipo. O que não lhe evita a crítica.
O ataque é tão "móvel" que se esquece que o objectivo do jogo é marcar golos. E a equipa é tão tipo quanto o tipo de futebol que pratica, decalcado do que fizera em Arouca. Em tudo, até no resultado.
A primeira parte só não é a cópia exacta da de Arouca porque lhe faltou a magia de Di Maria, que então fizera a diferença. E o golo. Por isso esta ficou a zero. E mais pobre.
Com este "ataque móvel", a mesma posse de bola e a mesma circulação. E, na mesma, sem profundidade, sem velocidade, sem intensidade e sem presença na área adversária. Oito remates apenas. E apenas dois enquadrados, nas estatísticas. Porque um, o primeiro, foi apenas uma "coisa" que passou pela cabeça de Di Maria a meio do seu meio campo. E contou por remate.
Dos outros seis apenas dois poderiam ter tido outro destino, e dar origem a qualquer coisa parecida com oportunidade para marcar. Um de Morato, de cabeça, na cobrança de mais um pontapé de canto, que saiu um pouco por cima da barra. E outro, na a única jogada bem construída, concluída com quatro jogadores bem dentro da da área do Chaves, que de Di Maria aproveitou para rematar de primeira, por alto.
Foi triste, a primeira parte, tanto como a tarde ventosa e chuvosa em Chaves.
Para a segunda parte Schemidt alterou o "ataque móvel". Ao intervalo substituiu Guedes por Cabral e, mais tarde, repetindo exactamente Arouca, os restantes dois. Di Maria e Rafa deram lugar a Musa e Tengstedt.
O Benfica não passou a jogar muito melhor, nada disso, mas passou a ter mais profundidade e mais velocidade. E Cabral era bem mais influente no jogo do que fora Guedes. Não se pode dizer que o golo tenha surgido com naturalidade, mas passou a ser mais provável. Aconteceu à beira do primeiro quarto: João Neves desequilibrou pela direita, numa boa jogada individual e a bola sobrou para Cabral marcar ... com o cu. Para que não fosse um golo "cu-rioso", um defesa do Chaves tirou-a de dentro da baliza e, porque o Benfica já conseguia "povoar" a área adversária, ainda lá estava Aursenes para confirmar o golo que já era.
É caso para dizer que ainda bem. Pelo que jogou, Cabral não merecia que o seu primeiro golo no campeonato fosse marcado com o cu.
Logo na resposta, como que a rebobinar o filme do costume, o Chaves poderia ter empatado, na segunda oportunidade (a primeira tinha antecedido o golo do Benfica em seis minutos) de golo em todo o jogo. O (grande) remate de longe, de Bruno Langa, foi defendido por Trubin, para a barra.
Mas o Benfica não tremeu, como tantas vezes tem acontecido, e continuou a mandar no jogo. Mas sem jogar muito mais que o minimamente exigível. E arrumou com as dúvidas sobre o resultado, já com o trio de "atacantes fixos", com o penálti cometido sobre João Neves, que João Mário (sem Di Maria ...) converteu com classe.
O penálti incomodou o pessoal da Sport TV. Tanto como Moreno, o treinador do Chaves, que até foi expulso. Pena que não aconteça o mesmo à malta da televisão que tem o exclusivo da transmissão dos jogos (de todos, à excepção dos do campeonato que se disputam na Luz) cá do burgo.
Dantes ainda se perdoava um chapada a um miúdo. E até se chegava a dizer que só se perdiam as que caíam no chão. Hoje já não é assim. O Bruno Langa é que talvez pensasse que sim, que não tem mal nenhum dar uma chapada ao miúdo. A malta da Sport TV também sabe que, num jogo de futebol, dar uma chapada num adversário é falta. Só que, dentro da área ... é que não. E penálti para o Benfica, a um quarto de hora do fim, depois do Porto ter perdido, no Dragão, com o Estoril - último classificado - dói-lhes. E como lhes doeu...
O jogo não teria mais história se não tivesse ainda sido invalidado o terceiro golo, já à beira dos 90 minutos. Todo ele nascido da nova estrutura atacante da equipa, com Cabral a ceder a bola a Musa, sobre a esquerda, que fez golo. Como a poderia ter passado a Tengstedt, à sua direita, muito provavelmente com o mesmo destino.
Não se percebeu qualquer fora de jogo, mas o VAR conseguiu arranjar umas linhas que davam Musa 9 cm adiantado em relação ao penúltimo defesa.
O árbitro, o bem conhecido Hélder Malheiro, que até era o VAR do jogo da época passada neste mesmo campo - lembram-se do penálti não assinalado a favor do Benfica, no último minuto, que deu no golo da vitória do Chaves? - foi o artista do costume. Também não viu o penálti sobre o João Neves. Valeu que não tem o dom da ubiquidade e que, estando no campo, não poderia estar no VAR. Mas, por ele, fez tudo o que pôde fazer. Transformou cantos em pontapés de baliza e até mandou cobrar um livre cinco ou dez metros atrás do local onde a falta fora cometida, não fosse o Di Maria fazer uma das suas. O Otamendi, na qualidade de capitão e discreta e educadamente (pelo menos sem gestos de protesto), disse-lhe que a falta ocorrera mais à frente, e viu o amarelo. O António Silva deixou a bola para Trubin cobrar um livre por fora de jogo, e viu amarelo. Os de Chaves agarraram por onde puderam e quiseram jogadores do Benfica a sair para contra-ataque, mas ... nada. Para eles, amarelo, só quando aquilo era para vermelho.
É assim sempre. É ainda mais assim quando o Porto perde. Mas siga!