O copo a encher
Há muito que Mamadou Ba se tornou no ódio de estimação da extrema-direita. Adianto que, pessoalmente, não nutro particular simpatia por este activista do SOS Racismo, associação que tem um papel fundamental na percepção e na denúncia do racismo. Não o achar simpático, não empatizar com ele, e entender até que muitas vezes é ele próprio que se põe a jeito, quando opta pelos caminhos mais propícios ao confronto, não limita a minha sintonia com as causas e os valores que estão por trás. Aí não tenho dúvidas nenhumas sobre qual é o meu lado.
Se, episódios como o da vandalização da estátua do Padre António Vieira, acabam por lhe rebentar nas próprias mãos, já a expressão "matar o homem branco", utilizada em contexto de aula como figura de estilo, acabou no aproveitamento abusivo e descontextualizado a que a própria expressão se presta.
A gota final no copo da extrema-direita, vertido na petição pública virtual que exige a sua deportação, caiu da sua reacção às manifestações pelo recente falecimento de Marcelino da Mota onde, na minha opinião, não disse nada mais que a verdade factual: Marcelino da Mata pode ser o militar mais condecorado (pelo Estado Novo, evidentemente) de sempre da tropa portuguesa, mas não deixa de ser a figura mais perversa do exército colonial, a expressão da propaganda colonialista, e uma personagem que falhou o banco do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos para ser julgado por sucessivas violações da Convenção de Genebra.
Este é também um sinal dos tempos que vamos vivendo, onde também o copo do retrocesso, da intolerância e do ódio se está a encher a um ritmo há poucos anos impensável.